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Peregrinação a Santiago de Compostela: um caminho para a Saúde

A peregrinação a Santiago de Compostela não foi apenas uma travessia geográfica de mais de uma centena de quilómetros, feita a pé. Foi, sobretudo, uma caminhada interior, que se inscreve não só na tradição espiritual mas também na esfera da saúde – física, mental e até social.

O esforço exigido no Caminho é a primeira conexão evidente com a saúde. Dias seguidos de caminhada, muitas vezes sob sol intenso e por vezes chuva persistente, obrigam o corpo a adaptar-se, a mostrar resiliência. Os músculos, as articulações e a capacidade respiratória são postos à prova, revelando limites que muitas vezes desconhecia. Mas não se trata apenas de resistência física: foi também uma oportunidade de redescobrir o corpo como aliado. Cada quilómetro superado foi uma lição de que o movimento continuado, persistente mas equilibrado, é um dos pilares para uma vida mais saudável.

Ao mesmo tempo, cada etapa do caminho oferece espaço para uma forma rara de meditação em movimento. O silêncio da natureza, o compasso regular dos passos e a repetição dos gestos abrem lugar à introspeção.

Estudos demonstram que a caminhada regular contribui para reduzir a ansiedade, controlar níveis de stress. No Caminho, esse efeito é multiplicado porque o andar está aliado a um propósito: chegar a Santiago. Ali, corpo e mente alinham-se numa prática terapêutica que dificilmente se encontra entre as rotinas aceleradas do quotidiano.

A peregrinação é igualmente símbolo da definição de metas e objetivos. Cada dia impõe uma distância a percorrer, um marco a alcançar. A isto soma-se a meta maior: a Catedral de Santiago. Este exercício de planeamento e de pequena conquista diária replica o que é viver: estabelecer objetivos, saber que alguns dias correm melhor e outros pior, aceitar contratempos, reorganizar prioridades mas nunca perder de vista o propósito. Essa disciplina transporta-se facilmente para outras áreas da vida, reforçando a saúde emocional e psicológica.

Importa ainda sublinhar a dimensão social e comunitária. No Caminho de Santiago, cruzam-se peregrinos de todo o mundo, cada um com motivações distintas: fé, desafio pessoal, necessidade de reencontro. O convívio diário, o cuidar e ser cuidado, a partilha de alimento ou de histórias, tudo isso contribui para uma saúde relacional que tantas vezes é negligenciada. E a ciência mostra-nos que comunidades coesas e relações de apoio têm impacto direto na longevidade e no bem-estar.

No fundo, o Caminho funciona como metáfora da própria vida. Há etapas fáceis e outras penosas; há momentos de euforia e de desânimo; e há sempre algo a aprender com os obstáculos. A peregrinação ensina sobre paciência, gratidão e humildade, traduzindo-se num exercício de educação para a saúde nas suas múltiplas dimensões.

Fazer o Caminho de Santiago é, por isso, mais do que uma tradição secular ou um ato de fé. É um exercício pleno de autocuidado integral, onde a saúde não é entendida apenas como ausência de doença, mas como equilíbrio entre corpo, mente e espírito.

No final, ao chegar à Praça do Obradoiro, não levei apenas a experiência de um trajeto vencido, mas a certeza de ter reencontrado dentro de mim uma nova forma de habitar o corpo, a vida e, sobretudo, a saúde.

Mário Peixoto

Mário Peixoto

18 outubro 2025