Escrevo este artigo ainda em trânsito para regressar a casa, depois de mais uma experiência inesquecível pelas terras chinesas. Tendo sido indigitado para presidir a uma comissão técnica para o voleibol, numa organização internacional do Desporto Escolar, a Internacional School Sport Federation (ISF), pelo que fui incumbido de realizar a visita inspetiva para a organização de dois eventos, para dezembro de deste ano (Sub15) e julho de 2026 (sub 18), numa cidade chamada Shangluo.
A razão pela qual expresso esta minha experiência, é porque de facto fiquei de “olhos em bico”, com as alterações sociais, evidentes, com o programa de desenvolvimento desportivo e fundamentalmente com o investimento estratégico que a China está a operar, em transformar algumas cidades em polos de desenvolvimento local e nacional das modalidades charneira da sua cultura desportiva. Desta forma, Shangluo candidatou-se a organizar quatro eventos internacionais sucessivos na mesma modalidade para diferentes idades, como forma de abrir a mentalidade dos seus jovens, mas acima de tudo para começar a aplicar um programa complexo de desenvolvimento desta modalidade, perspetivando o futuro e também os próximos Jogos Olímpicos.
Shangluo, com apoio governamental, criou dois polos de treino, que eles denominam de “Centro de treino nacional de voleibol”, em que têm missões distintas e verdadeiramente interessantes: um polo, no Centro da Cidade, para as seleções de formação, próximas das escolas (já falarei um sobre o que vi) e outro, mais isolado, destinado às seleções nacionais seniores. O primeiro ainda em construção, gigantesco, com 6 campos de treino e um central de grande dimensão, com residências estudantis e colado a duas escolas. E foi esta perspetiva integradora da formação dos seus atletas que mais me impressionou. Não se trata apenas de instalações de treino, trata-se de dar melhores condições à base, como garantia estruturada de desenvolvimento humano e desportivo, para o futuro. O outro centro, mais distante, com uma dinâmica de alto rendimento, com 5 campos de treino, mais dois pavilhões fantásticos, com dimensões distintas para acolher treino de alto nível e jogos das seleções. Mais distante, mas integrado numa zona de divertimento, cultura e da história deste país, associa a pacatez e beleza natural à integração do público em muitas áreas culturais. Até aos jogos olímpicos os/as atletas vão estar a viver num resort muito próximo deste centro de treino.
Em relação às escolas, esta cidade construiu recentemente centros escolares, que quase parecem universidades, com áreas diferenciadas de intervenção com evidente aposta na cultura, na inovação, na ciência, na investigação e no desporto. Sim, escolas, não universidades. E em todas elas, o parque desportivo é realmente impressionante. A verdade é que a estratégia não pode passar por fazer mega pavilhões ou estádios para o “Euro”, trata-se de abrir as portas para o futuro. Na verdade, o que é preciso é abrir os olhos…