A saúde mental sempre foi, ao longo da história, envolta em estigmas e silêncios, permanecendo como um assunto tabu na sociedade. No entanto, nos últimos anos, tem vindo a ganhar destaque como tema central em conversas públicas, notícias e campanhas políticas. Se, por um lado, este aumento de atenção pode ser visto como positivo, pois permite quebrar estigmas, encorajar pessoas a procurar ajuda e sensibilizar a sociedade para a importância do equilíbrio emocional, por outro lado, há quem questione se este interesse é realmente profundo ou apenas uma moda passageira, impulsionada por campanhas nas redes sociais e pelo apelo mediático de celebridades que falam sobre ansiedade, depressão ou burnout.
Em Portugal, a prevalência de transtornos mentais continua a ser uma preocupação significativa. Estima-se que cerca de 22,9% da população apresente algum tipo de perturbação psiquiátrica, um valor superior à média da União Europeia. Os transtornos de ansiedade são os mais comuns, afetando aproximadamente 16,5% da população, seguidos pelos transtornos depressivos, que atingem cerca de 7,9%. Além disso, 32% dos portugueses com 16 anos ou mais apresentam sintomas de ansiedade generalizada, sendo que 10% destes casos são graves, incluindo episódios de ataques de pânico ou palpitações.
Por isso, a verdade é que, independentemente das motivações iniciais, a popularização do tema parece ter vindo a trazer benefícios concretos: mais pessoas estão a reconhecer sinais de sofrimento, a discutir estratégias de autocuidado e a reclamar políticas de prevenção e apoio. Assim, mesmo que a visibilidade tenha começado como tendência, veio abrir espaço para reflexões importantes e mudanças reais na forma como encaramos a saúde mental na vida quotidiana.
Mas a saúde mental ainda enfrenta dificuldades significativas: o estigma e o preconceito que condicionam a procura de ajuda (no caso português, com clara prevalência no sexo masculino); o diagnóstico tardio de muitos transtornos psiquiátricos; o acesso limitado a cuidados especializados, com os serviços públicos a estarem frequentemente sobrecarregados e subfinanciados. Além disso, a falta de educação emocional e a baixa consciencialização da população sobre sinais de alerta tornam estes desafios ainda mais complexos, mostrando que há muito a fazer para garantir que todos tenham o apoio adequado à sua saúde mental.
Para continuar a melhorar a saúde mental em Portugal, é fundamental investir em educação emocional desde cedo, nas escolas e nos locais de trabalho, promovendo a literacia emocional e o reconhecimento de sinais de alerta. É também essencial reforçar os serviços de saúde mental, garantindo acesso rápido e equitativo a psicólogos e psiquiatras, e apoiar programas comunitários que ofereçam acompanhamento e recursos às famílias. Além disso, campanhas de sensibilização contínuas podem ajudar a reduzir o estigma e encorajar as pessoas a procurar ajuda sem vergonha.
A saúde mental é uma preocupação real e urgente que requer atenção e ação imediatas. Embora o aumento da visibilidade do tema seja um passo positivo, é essencial que se traduza em mudanças concretas e sustentáveis. É necessário combater o estigma, promover a educação e garantir que todos tenham acesso ao apoio necessário para manter o bem-estar mental. Somente assim poderemos construir uma sociedade mais saudável e resiliente.