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Ninguém agrada a gregos e a troianos

Chega setembro e com ele o meu reencontro semanal com os meus fiéis leitores, após o período necessário de férias; e para muitos deles tal reencontro é agradável, é preciso, mas para tantos outros sei que é mesmo dispensável.

Não duvido que a sina de quem escreve, mesmo direito, sem paixões clubistas, sem polémicas políticas, mormente partidárias, é essa mesma – não poder agradar a gregos e a troianos; só que, neste entretanto, os troianos são escassos e a sua idoneidade cívica e moral não é tão recomendável como o desejado.

Todavia, dou-me bem, melhor até com os que me criticam e não me aceitam do que com aqueles que me aceitam e acompanham; e, tão só, porque preciso, em determinadas circunstâncias, mais daqueles do que destes; é que o homem mede-se e vale pelos inimigos que tem e conserva, pois como dizem os filósofos e os sociólogos homem que não tenha pelo menos um inimigo (seja do que for) não é homem completo, uma vez que o homem se impõe e mede nas adversidades que enfrenta.

Mas, voltando com os bois ao rego, que é, como quem diz, deixando as divagações e acenando o rumo à crónica, há todos os dias coisas que é preciso dizer publicamente, doa a quem doer, em abono da verdade, da justiça e do bem-comum; por exemplo, certos políticos aceitam mal as críticas que lhes são feitas, mesmo que a razão esteja do lado de quem as aponta; e, assim, quando se critica, por exemplo, o governo por falta de ação e de medidas concretas para a resolução dos problemas sociais, da pobreza ou da corrupção, cai o Carmo e a Trindade.

Igualmente, quando se aponta o insucesso escolar como um mal a erradicar, há ministros da Educação que não aceitam a crítica ou sugestão e apontam mil e uma ações a serem tomadas para resolução do problema; só que elas nunca mais saem das gavetas e da cabeça dos ministros, porque para que as medidas resultem há um complexo fator de entrave que é a falta dos milhões necessários para sanar o problema.

E, ainda quando se diz que o governo não tem governado com a pressa e o acerto que são precisos e que o povo continua ansioso e vai cansando já de tanto esperar as reformas que tragam mais justiça social, mais desenvolvimento, mais riqueza para todos, aqui-del-rei que querem tudo de mão beijada e depressa, não dando tempo e modo para tomar medidas; e, depois, não é a governar com pressas e pressões que as promessas eleitorais se cumprem a preceito e os desejos dos cidadãos são satisfeitos.

Pois bem, é verdade que o nosso povo ainda continua com falta, muita falta, tanto como de pão para a boca, de muita igualdade de mérito, de cultura, de educação política e cívica; e, infelizmente, esta falta acontece em tudo quanto é lado, público e privado.

Vejam só, para ilustrar o que digo, uma cena que presenciei numa praia cá da zona: enquanto uma banhista estrangeira, após ter saboreado um gelado, levava o pauzinho e o papel que o embrulhava ao caixote do lixo, uma família de banhistas portugueses, no final do almoço, espetava na areia os ossos do frango, os restos do arroz, as casca de fruta e os guardanapos de papel, e isto numa total à-vontade que até fazia aflição a quem presenciava a naturalidade da cena.

Ora, não basta, realmente, dar ao povo mais dinheiro, melhores condições de vida e de mais liberdade se a sua educação de base, o seu nível cultural continuam baixos; porque nenhum povo pode evoluir como convém sem uma real elevação da sua cultura e do seu mérito, seja individual, familiar ou socialmente.

Pois é, por isso, me parece urgente criar nas escolas uma disciplina a sério de

Educação Cívica e Cultural com avaliação que conte para a classificação final dos

alunos; e o Ministério da Educação se quer combater o insucesso escolar, igualmente deve ter em conta o insucesso cívico e cultural; e para isso o deve fazer sem demagogia e com o maior realismo e verdade, porque entendo que se tal é para elevar socialmente os cidadãos do nosso país, até nem é pedir muito.

Espero que este nosso reencontro, após as férias de verão, não tenha resultado azedo e fastidioso para os nossos governantes e políticos em geral com esta minha intervenção de entrada; pois, o meu desiderato na escrita desta Nortada, foi mesmo, contrariamente ao que é comum, agradar a gregos e a troianos.

Então, até de hoje a oito.

Dinis Salgado

Dinis Salgado

17 setembro 2025