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Um tempo para nada fazer?

É altamente provável que os cristãos precisem de um tempo para nada fazer.

É sumamente necessário que os cristãos entrem num tempo em que deixem que Deus faça tudo neles. Não foi assim que procedeu a primeira cristã (cf. Lc 1, 49)?


 

Se queremos constituir – como não pode deixar de ser – uma Igreja centrada em Cristo, a prioridade tem de ser escutá-Lo. 

Não é, aliás, à escuta de Cristo que o Pai nos convida? «Este é o Meu Filho muito amado. Escutai-O» (Mc 9, 7).


 

Não é uma Igreja paralisada que se pretende. É, antes de mais, uma Igreja atenta que se defende.

Só pode haver anúncio na sequência da escuta. Só é possível desencadear a missão no seguimento da oração. É por isso que o silêncio é a «mãe» da palavra. 


 

Tendo em conta que andamos tão dissolvidos em ruído, não seria oportuno dedicarmos alguns anos a uma espécie de «deserto» para sorver o silêncio comunicativo que nos leva ao encontro de Deus?

Guy Barthélemy reconhecia que «o deserto “fala” melhor que a multidão». No seu «grande vazio, «o seu eco vem do céu». O deserto é discreto, fecundo, ordeiro. Nele — anotou aint-Exupéry —, «reina um grande silêncio, típico de uma casa em ordem».


 

Por conseguinte, o silêncio também merece entrar nos planos pastorais: o silêncio da adoração, o silêncio da meditação, o silêncio que entra pelo olhar e desce até ao coração.

Não esqueçamos que, como pontua Alain Corbin, «o silêncio de um homem (José) e o silêncio de um lugar (Nazaré) estão estreitamente ligados e são absolutos».


 

São Charles de Foucauld ouviu misticamente Jesus dizer-lhe: «Eu não cesso de vos instruir, não só pela palavra, mas sobretudo pelo Meu silêncio».

Daí que contemplasse longamente a vida de Maria e de José, repartida entre «a adoração imóvel e silenciosa, as carícias e os cuidados solícitos e muito ternos.


 

O silêncio de Maria e de José é o do coração que escuta. 

Trata-se da interioridade absoluta e da própria superação da palavra.


 

O essencial também pode ser dito para lá do som. Era neste sentido que Gabriel Marcel sublinhava a «qualidade intemporal do silêncio». 

Daí que, segundo Max Picard, «quando dois homens conversam, há sempre um terceiro que está presente: o silêncio».


 

Deus não Se esconde quando fica em silêncio. Ela fala sobretudo quando Se cala. 

Kierkegaard assim orava: «Senhor, não nos deixes nunca esquecer de que Tu também falas quando Te calas»,


 

Não falhemos, pois, ao silêncio. Entremos na sua casa e não tenhamos pressa em dela sair.

De resto e como reteve Pascal, «a palavra cristã é mais vigorosa e próxima da sua fonte divina quando é fiel ao silêncio». Será desta vez que não o vamos desperdiçar?

João António Pinheiro Teixeira

João António Pinheiro Teixeira

16 setembro 2025