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Os políticos e os sabonetes

 

 

Por estes dias e para quem anda distraído, a GTI*, entidade formadora, teve a ousadia e bem de lançar o repto à classe política e não só com a formação em Marketing Político. Uma iniciativa oportuna que arranca terça-feira em regime online, depois de um webinar esclarecedor, destinado a abrir o apetite intitulado “Como Disputar Eleições: Marketing Político na Prática”, da autoria de Rui Sousa Basto. O especialista em Marketing terá a oportunidade de ao longo dos próximos dias se dirigir a um público tão vasto como autarcas, candidatos a eleições autárquicas, diretores de campanha, membros das equipas das campanhas eleitorais e militantes e simpatizantes de forças políticas, assim como ao público em geral interessado no processo de gestão política e eleitoral, se assim o entenderem e poderem. A inscrição é gratuita. Para quem como eu acompanha de perto o processo eleitoral, não tenho dúvidas quanto à oportunidade deste curso e como ele pode ser importante não só para os destinatários nomeados, mas para quem tem preocupações com o nível e intensidade da participação cívica e o combate à abstenção. Como diz a GTI, “se o marketing político se centra na construção, consolidação e gestão da imagem e legitimidade política, o marketing eleitoral ocupa-se fundamentalmente a angariar votos e vencer eleições. Nesta ação de formação, serão tratados conteúdos relacionados com a realidade política nacional de uma forma prática e pragmática. Para além de matérias de natureza fundamental, ligadas às particularidades do sistema político e eleitoral de Portugal, os conteúdos da ação de formação incidem no planeamento estratégico de campanhas eleitorais autárquicas”. É aqui que a porca torça o rabo”, como diz o povo. O formador, Rui Sousa Basto, escreve no seu Blog, na GTI, como o Marketing ajuda a vender políticos como sabonetes, citando, a título de exemplo, Emídio Rangel, em 1997: “Uma estação que tem 50% de share vende tudo, até o Presidente da República! Vende aos bocados: um bocado de PR para aqui, outro bocado paraacolí, outro bocado para acolá, vende tudo! Vende sabonetes!”. Partindo do pressuposto com que Marcelo Rebelo de Sousa utilizou a televisão, durante anos, sem contraditório, para vender a sua imagem e como Luís Marques Mendes o repetiu, Rui Sousa Basto lança a questão, sabendo-se de antemão que a resposta é sim, falta é conhecer o caminho para lá chegar: “Não há dúvida que o Marketing ajuda a vender sabonetes, mas poderá fazer o mesmo com personalidades políticas, partidos ou ideologias, utilizando as mesmas técnicas que emprega na venda de sabonetes?”. Exemplos não faltam, sendo de esperar que esta formação incida também sobre esta dicotomia entre técnicas do sistema de troca em política versus comercial. Como plano de fundo, estamos sempre a falar de Comunicação, esse eterno problema da classe política que acha sempre que comunica melhor que o outro e que sabe fazê-lo melhor que ninguém até dar conta de que recetor não percebeu a mensagem ou pior do que isso, foi indiferente ao propósito do emissor. Quando assim acontece, o mais certo, é que o resultado seja uma desilusão. Neste contexto, o que tenho verificado, em muitas campanhas locais em curso, é que as equipas que rodeiam os(as) candidatos(as) são, na sua maioria, pouco rigorosos, limitadas, até básicas, fazendo toda a diferença, na hora de vender os seus “sabonetes”. Sei que olhar para um político como um produto pode ser ofensivo, mas a vida é como é. Diz o povo na sua sabedoria: “quem não quer ser lobo, não lhe veste a pele”.



 

*Declaração de interesse: o autor é formador na GTI

 

Paulo Sousa

Paulo Sousa

14 setembro 2025