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Os incêndios, a ocupação do interior e a descentralização

O momento que o país atravessa, como consequência dos incêndios que atingiram o território nacional, principalmente mais a Norte e Centro, foram verdadeiramente devastadores, afetando principalmente as áreas florestais, estendendo-se para as áreas agropecuárias e provocando danos incontornáveis nas populações ainda residentes.

Estes problemas, com menor ou maior extensão a nível nacional, arrasta-se há décadas, sendo de referir o caso de Pedrógão em 2016, que devia ter servido para refletir com maior acuidade e planeamento estratégico, de execução imediata, para controlar estas situações, não só devido às variações ambientais, como consequência da evolução de certas áreas do planeta, originado pelas alterações climáticas, resultantes não só da exagerada industrialização e sem controlo ambiental, assim como de medidas que deviam de ser tomadas para atenuar o excesso da poluição da atmosfera, criando espaços verdes nos grandes centros habitacionais, assim como planear as melhores soluções para as áreas florestais, quer na sua proteção, quer na implantação da vegetação mais adequada a cada região.

A excessiva plantação de eucaliptos com um desenvolvimento e ocupação acima do normal, considerando a sua fácil propagação e desenvolvimento, tem sido a principal causa dos incêndios, em locais inacessíveis ou sem vias de comunicação viária e terrestre e ao mesmo tempo não exigindo a responsabilidade aos proprietários, às empresas ou ao Estado, que contribuíram para alterar a flora original dos locais invadidos por espécies resinosas, que são o fulcro dos grandes incêndios.

Era fundamental as leis serem cumpridas com rigor, proteção adequada às variações, com sanções adequadas, principalmente para os incendiários, protegendo assim o interior e as populações ali instaladas.

O país, há décadas, independentemente da área política e principalmente aqueles que há mais tempo governam o país, deviam pensar que o poder não é só em Lisboa, mas planear atempadamente uma descentralização fundamental para o abandono populacional do interior e promover a descentralização, o que é urgente para impedir estas situações e Portugal ser só um país de grandes centros populacionais. Convinha incentivar os jovens para o interior, mediante a criação de indústria adaptada a cada região, considerando as novas tecnologias, em que o teletrabalho seria um forte incentivo para fixar população e recuperar aldeias abandonadas, concedendo concessões especiais e atrativas para nacionais e migrantes.

É inconcebível que se concentre tudo em Lisboa, pois Portugal teve desde há anos ótimas condições para a regionalização mediante as cinco bem estruturadas Comissões de Coordenação de Desenvolvimento das Regiões, o que não se tem verificado, com progressivo sentido descentralizador. O ato eleitoral nacional devia ser reformulado na legislação, pois os deputados da Assembleia da República deviam ser oriundos da região e ali viverem, assim como era fundamental reduzir o número de deputados, mas com total exclusividade, excessivos para o país e devidamente remunerados no exercício da sua função, em comissões estratégicas para todo o país e principalmente para o desenvolvimento e reocupação do interior, pois há boas vias de comunicação rodoviárias, mas infelizmente as ferroviárias foram parcialmente abandonas e deviam ser recuperadas com brevidade. Os políticos deviam rever-se na Suíça e no caminho que seguiu, assim como alguns países da Europa, apesar das suas diversidades florestais e ocupação do seu interior.

Como é possível viver no interior, onde deviam permanecer entidades fundamentais e que progressivamente vão sendo encerradas – Caixa Geral de Depósitos, Finanças, CTT, Escolas SNS e outras fundamentais à ocupação e seu desenvolvimento, pois o digital não é tudo, contribuindo para a desertificação.

O centralismo crónico consumiu o interior por dentro, despovoando-o e são décadas de êxodo, com terras ao abandono, tendo cristalizado muitas regiões e sendo Portugal o terceiro país mais centralizado da Europa. Era necessário as entidades públicas pensarem a sério em corrigir estas graves assimetrias, que podem conduzir a graves e imprevisíveis consequências para o país.

Há muitas situações que devem ser consideradas como retrocesso, apesar das novas tecnologias e da era digital e dá-se como exemplo o facto de se ter acabado com os guarda-rios, grande erro e de consequências inimagináveis, pois as águas fluviais estão a ser profundamente contaminadas e sem controlo, situação que não ocorria há décadas e o digital não é solução, assim como para as florestas, ao extinguirem-se guardas-florestais.

Ano após ano os incêndios são reflexo de centralismo que destrói o país e ano após ano, arde a floresta e a esperança de que Portugal seja um todo. É tempo de mudar, acabar com as guerras partidárias e pensar em primeiro lugar no bem-estar dos cidadãos, ocupação do interior e no nosso futuro.

Bernardo Reis

Bernardo Reis

10 setembro 2025