Não há férias tranquilas para quem olha o mundo pelo lado que deve ser olhado, isto é, pela lente da realidade. Temos um homem que engana outro homem, ambos poderosos e o primeiro mais raposa que o segundo e o segundo a fingir que quer a paz. Falo, é claro, de Putin, a raposa, e de Trump, o galo que não sabe cantar alvoradas. Noutro canto do mundo Israel desfaz, a tiros de guerra, a faixa de Gaza que não domina política e territorialmente e recusa acabar com o massacre envolto em suposições que só ele domina e sabe. A Ucrânia é a Palestina, são piões desta brega. Então sonhamos que um dia Putin e Trump desapareçam da cena política mundial e suspiramos, com o mesmo asco, que Netanyahu perca as próximas eleições para o vermos pelas costas ou quiçá no Tribunal Penal Internacional no banco dos réus acusado de criminoso de guerra. Tem que se chegar para o lado para lá caber o Putin, como é óbvio. No nosso país os incêndios empobreceram quem já não era rico e deixaram no ar a esperança de que um dia apareça uma solução capaz de não deixar em cinzas terrenos e montados que eram viçosos e verdes. Quem incendeia parece estar a coberto da inimputabilidade por razões de saúde mental; talvez se pudessem manter em suas casas com pulseira eletrónica: era a impossibilidade de se mexerem fora de casa. Coitadinhos, dirão alguns; outros alegam a não existência de lei ou leis que tal permitam; mas quem são os pobrezinhos destas fixações incendiárias? Por acaso não têm o direito de estarem em sossego todo nos tempos em que secam as fontes e ardem os montes? Estamos a viver os medos de uma guerra mundial, porque as potências que têm a força atómica são as que mais forçam uma guerra generalizada: os invasores da Ucrânia e o pretenso invasor do Canadá. Como podemos gozar umas férias de sossego todo quando tudo isto nos exalta ao ponto de nos roubar o ambiente de descontração de férias? Quem pode gozar férias quando tudo isto está no olho do furação?