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Grandiosidade da China e de Portugal

Contam os humoristas que um político do nosso quintal, adverso a quaisquer tonalidades do vermelhão, fez uma declaração de guerra aos chineses por terem inundado o país com lojas em qualquer esquina de Portugal, afirmando-lhes:

Para lutarmos convosco temos noventa tanques, trinta caças, quatro navios, dois magníficos submarinos adquiridos por Paulo Portas, o irrevogável, e cem mil militares”.

Que os chineses responderam: “Aceitamos a declaração de guerra. Nós temos quarenta mil tanques, quinze mil aviões, oitocentos navios, quinhentos submarinos e cem milhões de militares”.

Pelo que, o ministro de defesa português respondeu: “Retiramos a declaração de guerra. Não temos como alojar tantos prisioneiros”.

Somos assim! 

Insinuamos a qualquer hora do dia ou em qualquer ambiente que acabamos de comer lagosta ou caviar, mas não nos apercebemos que as nossas roupas cheiram a sardinha ou a chicharro frito; apresentamo-nos nas ruas da cidade com a viatura mais cara e moderna do ano, mas escondemos como foi adquirida e quantos anos demorará a ser paga.

Temos mais de duas centenas de deputados eleitos e de muitas mais centenas de indivíduos para os “ajudar” na governação, que entraram pelas portas do Diário da República, porque somos um grande povo e um povo grande; fazem-se os negócios e os contractos mais rápidos do planeta, porque somos grandes a combinar e a programar ideias nascidas à volta duma garrafa de champanhe ou de uísque.

Somos assim!

Temos os políticos mais bem vestidos da Europa e segundo os modelos de Paris ou Londres, pois perante tanta grandiosidade nacional, o aspecto, o charme de ocasião é mais de meio caminho andado para que “os nossos parceiros europeus” nos dispensem mais uns milhõezitos. 

Temos fama em qualquer canto do mundo, porque tivemos a Amália Rodrigues, o Eusébio e agora o Cristiano Ronaldo e o Mourinho que, por tais personalidades, nos aceitam as vénias e os rasgados sorrisos que os políticos devem procurar manter; somos um povo grande e de grandiosidade tal que temos uma dívida de centenas de mil milhões de euros, em que os credores aceitam receber com o tempo, uma vez que o tempo é dinheiro e, necessidade não há, de sermos a canalhíada da Europa ou o termos de viver sob o jugo da fome.

Somos assim!

Temos os melhores políticos da europa: os mais inteligentes, os mais sábios, os mais idiotas, isto é, com melhores ideias, os mais honestos, os mais justos, os mais sacrificados pelas milhentas horas de trabalho diário feitas, os que menos recebem e, em toda a europa, os nossos políticos da esquerda e, outros antes, foram desde o século passado até este, os únicos que concluíram que para se resolverem os problemas económicos de qualquer país, apenas é preciso dinheiro! 

E se dúvidas houver logo surgem aos setenta políticos de cada vez – desde marcelistas a marxistas passando por miterrandistas e leninistas – que fazem manifestos a explicar como se enrolam os trôpegos ou os que paralisam pela ferrugem entranhada.

Ora isto é ser-se inteligente, sábios e únicos! 

Somos assim!

A nossa grandiosidade nacional é evidente, palpável, impagável, invejada, pois não vivemos para descansar. E se descansarmos um pouco de dia, uma sesta, é para que possamos dormir melhor de noite, uma vez que o trabalho é sagrado.

Erramos muito, porque é muito o trabalho a fazer. Sabemos que quem não trabalhar não erra e que só estes podem pertencer ao grupo dos inteligentes, sábios e únicos, isto é, governantes, líderes políticos ou pessoas que sabem usar gravata, botões-de-punho em camisas engomadas.

Não somos um povo como o da Crimeia, que vive para a Rússia, com as certezas 

testemunhadas das futuras regalias sociais e económicas então prometidas.

Os portugueses são muito mais que isso: nunca guardam para amanhã o que podem fazer depois de amanhã. Por ser assim, é de condenar todos aqueles que nos chamam calaceiros e que afirmam que “só trabalhando dezasseis horas por dia como os trabalhadores alemães fizeram desde 1945 a 1970”, é que merecemos um aumentozito no ordenado.

Somos assim!

Portugal nunca será anexado e garroteado como a Crimeia foi, nem vendido como o Alasca, uma vez que temos boas qualidades e umas forças de segurança que, pelos ordenados e privilégios que têm, derramarão até à última gota de vinho ou de água das garrafas, contra a sua sede, por Portugal.

Na verdade, isto é grandiosidade nacional!

Artur Soares

Artur Soares

5 setembro 2025