A Europa entrou num ciclo político decisivo. O multilateralismo está em erosão, a ordem mundial fragmenta-se e os blocos definem estratégias com pragmatismo. Para a União Europeia, não basta proclamar intenções: ou assume-se como ator relevante, ou corre o risco de ficar apenas nos livros de história.
O acordo tarifário fechado em julho entre União Europeia e os Estados Unidos — com tarifas, investimento europeu massivo nos Estados Unidos e importações garantidas de energia americana — mostra bem o dilema europeu. Não foi um gesto de fraqueza, foi uma escolha estratégica: segurar o apoio norte-americano na guerra da Ucrânia e preservar a segurança euro-atlântica. Um golpe de pragmatismo que deve inspirar o futuro.
A competitividade é hoje poder. E para a Europa, o desafio é libertar-se da burocracia que asfixia empresas e inovadores. É também acelerar em ciência, digitalização e energia limpa, criando um mercado único funcional, simples e atrativo. Portugal tem aqui uma oportunidade: um tecido empresarial feito de PME, já vocacionado para renováveis e digitalização, pode ganhar escala se a União Europeia souber criar condições.
O XXV Governo português tem insistido na necessidade de crescimento económico assente em inovação, abertura externa e estabilidade social. É uma linha que, se bem executada, pode alinhar com a agenda europeia: menos burocracia para as empresas, maior aposta na transição energética, e uma política externa que liga Portugal à Comunidade de Países de Língua Portuguesa e ao Atlântico. Esta abordagem dá a Portugal não apenas mais relevância dentro da União Europeia, mas também capacidade de projetar influência fora dela, reforçando a nossa autonomia relativa.
A guerra na Ucrânia recordou-nos que a paz não é um dado adquirido. A Europa precisa de reforçar a base industrial de defesa, investir em cibersegurança e melhorar a interoperabilidade de dados entre Estados. Só assim haverá confiança interna e poder negocial externo.
Também as migrações não podem ser lidas fora da equação da competitividade. A Europa precisa de migrantes para sustentar a economia, mas também precisa de fronteiras seguras para garantir confiança. Um sistema equilibrado — com vias legais de entrada, integração digna e controlo firme das fronteiras externas — é a única forma de travar redes criminosas, evitar tensões sociais e preservar coesão.
Mais do que novos pactos ou declarações, o que se exige agora é execução: aplicar no terreno os mecanismos de registo, retorno e acolhimento que já foram acordados. Sem resultados concretos, a narrativa do descontrolo continuará a alimentar extremismos, corroendo a confiança dos cidadãos e limitando a própria capacidade de a Europa atrair talento qualificado.
O equilíbrio que conseguirmos em Portugal será exemplo e argumento na discussão europeia.
2025–2026 não podem ser apenas mais um ciclo legislativo europeu. São uma janela crítica.
Se a Europa falhar na competitividade, perderá relevância. Se falhar na segurança, perderá liberdade. Se falhar nas migrações, perderá coesão. Mas se acertar — com pragmatismo e visão — pode sair reforçada.
Temos de defender menos burocracia em Bruxelas, apostar na transição energética e digital, usar a Comunidade de Países de Língua Portuguesa como alavanca diplomática, e assumir responsabilidades na segurança europeia. Assim, Portugal não será apenas beneficiário da integração, mas parte da solução.
Numa ordem mundial em mudança, a União Europeia pode sobreviver e afirmar-se se souber ser competitiva, segura e global. E Portugal, pragmático e atlântico, tem tudo para estar na linha da frente dessa afirmação.