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Uma chegada aérea aos encantos da Índia

No dia 8 de julho de 1497, Vasco da Gama, um fidalgo nascido em Sines, comandou um grupo de navegadores que, por entre agruras do mar bravio, com os barcos frágeis e parcos recursos alimentícios e higiénicos, conseguiu chegar à Índia, a Calecut, no dia 20 de maio de 1498, sendo um feito marcante na história das descobertas marítimas portuguesas, fazendo ascender Portugal como uma grande potência global.

Vasco da Gama lá chegou, estabelecendo como territórios portugueses Goa, Damão e Diu até 1961, altura em os indianos invadiram essas zonas e os portugueses foram obrigados a entregar essas terras contra a vontade de António de Oliveira Salazar.

Após esta resenha histórica, vou referir-me a um grupo de vilaverdenses, integrando-se alguns elementos, residentes noutros concelhos, que visitou a Índia sob a coordenação do Padre Dayakar, pároco do Arciprestado de Vila Verde, viagem muito bem organizada, bem planeada, graças, também, à agência escolhida e a toda uma série de pessoas que trabalharam para o efeito.

Da minha parte e, com certeza da parte dos restantes, o objetivo foi conhecer um país onde os nossos antepassados tanto lutaram para lá chegar e, ao mesmo tempo, contactar e ver uma civilização que contrasta, em muitos aspetos, com a nossa, a nível cultural, social, religioso…

Partimos de Cabanelas, Vila Verde, no dia 20 e regressamos no dia 29 de agosto. Após várias horas de voo, com refeição e noite a bordo, chegamos a Deli às 4 h e 50 m locais (mais 4h e 30 minutos de Portugal). 

Bons autocarros, guias competentes e hotéis de cinco estrelas deram a devida qualidade a todos nós. Foram dias ricos nas diversificadas visitas que fizemos e na observação dos contrastes civilizacionais de uma parte do povo que luta pela sua sobrevivência, vivendo em condições pouco dignificantes, enquanto outros, em muitos casos, lado a lado, contrastam com a grande opulência, residindo em enormes torres, luxuosas vivendas e palacetes.

Nova Deli é considerada a cidade mais populosa da Índia com vários milhões de habitantes, com um trânsito caótico, praticamente sem regras, cada um avança por onde puder, os piscas são substituídos por buzinadelas sem parar. Mesmo assim, não vimos qualquer acidente e o trânsito intenso circula regularmente sem grandes paragens. Isto deparou-se noutras cidades, exceto em Goa, com menos população, onde já se nota um pouco de ordem no trânsito e com muitos vestígios civilizacionais portugueses: jardins, feiras, construções, estátuas de figuras ilustres do tempo, inscrições em língua portuguesa, notando-se, ainda, o toque dos portugueses, até na limpeza e higiene das ruas.

Ficamos com uma ideia bastante completa de um país que nos apresenta grandes histórias locais, representadas por um património rico com palácios sumptuosos construídos, alguns, num passado bastante remoto para fins diversos.

Fizemos um trajeto pelas mais importantes localidades da Índia, como, Deli Jaipur, Agra, Goa, Mumbai. Além das visitas guiadas a vários monumentos, incluindo a maior mesquita da Índia “JamaMasjid”, a cidade nova, construída pelos britânicos entre 1930 e 1940, com destaque para a Porta da Índia, edifícios governamentais… 

Foram celebradas duas Eucaristias por três sacerdotes que integravam o grupo: no domingo, dia 24, em Jaipur, na Igreja de São Francisco Xavier e no dia 26, em Goa, na Basílica do Bom Jesus, onde se encontram os restos mortais de São Francisco Xavier. Visitamos, ainda, a Igreja da Imaculada Conceição, em Goa, onde os seus capelães, que falavam português, fizeram questão que entoássemos cânticos a Nossa Senhora.

Em Mumbai, onde os portugueses também marcaram presença com a chegada dos seus pequenos barcos, batizando-a como “A Bela Baía”, daí o antigo nome de Bombaim, além de tantas outras visitas, tivemos ocasião de aceder às cavernas de Kanheri, muito bem conservadas, cavadas na pedra, entre os séculos II a IX, dedicadas a Buda, pois na Índia reina um politeísmo muito acentuado.

Não podia terminar esta crónica sem falar da visita que fizemos à casa Mani Bhavan, onde Mahatma Gandhi ficou durante as suas visitas a Bombaim (Mumbai), entre 1917 e 1932. Ficou como um símbolo da liberdade onde foram tomadas medidas importantes. Um homem que liderou a nação, sendo intransigente na luta pela liberdade, pelos mais fracos, por causas justas, evitando a violência, liderando o movimento de independência da Índia, dominada pelos ingleses, sendo assassinado. Foi cremado no Raj Ghat (um grande símbolo da nação.)

Deixo-vos com alguns pensamentos de Gandhi que pude ler nos quadros expostos: «A verdadeira moralidade… é descobrir o verdadeiro caminho para nós próprios e segui-lo sem medo; devemos guiar a nossa política pelo nosso sentido de retidão e não pela tentação de ganhar popularidade barata; sou intransigente em relação aos direitos das mulheres… a natureza criou os sexos como complementos um dos outros…; lutarei por uma Índia em que até os mais pobres entre o pobres sintam que o país é deles. Luto por uma Índia assim.» 

Salvador de Sousa

Salvador de Sousa

2 setembro 2025