Estamos numa época do ano muito característica, embora passageira e breve, de que talvez não nos damos conta e não lhe prestamos a atenção que ela merece. Certamente penso no que sucede nestes dias à maior parte da população do nosso país, sabendo que pode acontecer algo de muito diferente noutras zonas do planeta em que vivemos, porque as condições climatéricas são diversas e também os costumes e tantos outros factores podem levar as pessoas a viverem estes dias de modo desigual.
Agosto acaba-se no próximo domingo (escrevo estas linhas a 29 deste mês, sexta-feira), e no início da semana que vem começa Setembro.
São dois momentos destes meses, que nos aparecem com características semelhantes e, simultaneamente, com perspectivas que quase se opõem entre si. Dizia-me um meu amigo a este respeito: “Nos finais de Agosto, começo a ficar nervoso e, nos inícios de Setembro, mais nervoso ainda fico, mas, subitamente, acalmo e passo a olhar a vida duma forma muito normal.”
Pedi-lhe para me explicar melhor o que acabara de dizer, já que fiquei um bocado perplexo perante tais oscilações do seu comportamento.
Sorriu, pensou alguns momentos, e depois observou: ”Para mim, desde miúdo, o mês de Agosto é tempo de férias. E, com elas, vem a despreocupação, o gosto pelo descanso, pelos banhos na praia, e inclusivamente, pelos sossegos suplementares que em minha casa se viviam, deitando-nos para uma soneca, depois de se almoçar, no início da tarde...”
Recordei imediatamente que na minha juventude conhecera situações domésticas e familiares muito semelhantes. Mas continuava sem entender as razões de tanto nervosismo. Não se calou, continuando a dissertar a sua temática algo complexa, ou, pelo menos, que eu não conseguia compreender perfeitamente.
“À medida que o fim de Agosto se aproxima, começo a pensar que o tempo de calma está quase esgotado, já que os dias de Setembro vão surgir rapidamente, mudando os horizontes de paz para as horas de trabalho, para o dia a dia fatigante, para as idas e vindas cheias de pressa, relacionadas com o meu trabalho profissional, enfim, para aquilo, ao fim e ao cabo, que nos priva da mansidão dos dias deste mês, que, como tudo o que nos agrada neste mundo, é sempre passageiro...”
Fez silêncio por alguns momentos e voltou a insistir: “ Os fins de Agosto são como que uma situação semelhante a quem se excita e não consegue ter paz, porque descobre que a tranquilidade vai terminar... São, ao fim e ao cabo, dias um pouco contraditórios, que não sei encarar bem, que me enervam, que me recordam constantemente que vou recomeçar a mesma lufa-lufa de sempre. Por isso me inquieto... E é deste modo que entro em Setembro. Talvez nos primeiros dias, a nervoseira aumente de grau, mas, não sei bem como, a pouco e pouco, acomodo-me à realidade e penso que não vale a pena inquietar-me mais com o assunto, sobretudo porque o trabalho é o que me sustenta e me ocupa a maior parte do tempo consciente desta vida... Enfim, também a minha memória me segreda sempre que “o homem é um animal de hábitos”... Este ditado dá-me muito conforto.”