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A força da inércia e da resiliência…

 

 



 

Todos nascem originais, todavia muitos morrem como cópias.

Carlo Curtis



 

Aproxima-se o fim das férias, e fica certamente o espectro de florestas queimadas, ramos calcinados e troncos retorcidos, tornando a paisagem mais seca e como de uma tragédia macabra se tratasse.

Logo se fazem contas aos prejuízos materiais, sem ter em conta os psicológicos e sociais, a floresta que demorou tantos anos a crescer, mesmo reservas naturais para preservação do ambiente e a necessária clorofila para os pulmões infetados. Um povo triste e um país entristecido, à procura de causas e de incendiários, que de certeza, existem pelas mais diversas razões: inveja, má vontade, vingança e raiva de partidos, comprometendo a vida nacional e condenando-nos cada vez mais à mediocridade. Fazem-se diagnósticos, prometem-se indemnizações, e muitos a sangrar, para além dos vampiros que do sangue, ou dos ossos calcinados, tentam tirar dividendos…

Há vários anos, o mesmo cenário dantesco ou infernal, sem fazer-se uma reforma estrutural da floresta e da sua biodiversidade. Quem visita outros países fica espantado com a beleza das montanhas e do verde luxuriante com que nos saúdam nas auto-estradas. Mesmo a Espanha ou a Itália, também sofrendo consequências do clima, têm feito grandes esforços para a reflorestação na silvicultura e incremento da fauna autóctone para maior equilíbrio da natureza e dos solos, abrindo clareiras nos montes para situações emergentes. Procura-se também espécies, que sejam rentáveis de madeiras de qualidade. Entre nós, limita-se à entrega de uns subsídios, ameaças por falta de limpeza, mas continua tudo na mesma, enquanto subsiste um interior desertificado e pobre, e muitos se banham nas praias, alheios a todo o teatro de operações de bombeiros e voluntários de mangueira na mão a socorrer as populações. De facto, vive-se de um atavismo crónico, de resignados a viver a sina de um fado melancólico, que nos torna de cada vez mais nostálgicos e tristes. Somos todos originais, porém muitos morrem como cópias… Qual a razão?… Outrora, num país cristão, a Igreja condenava os incêndios como o homicídio, aborto, e “fogo posto” era objecto de excomunhão. E hoje? Quem acredita nisso?!…

Recordo uma reflexão de Antropologia de Claude-Lévi Strauss:

“A cultura fabrica a ordem: cultivamos a terra, construímos as casas, produzimos objetos manufaturados. Em contrapartida, as nossas sociedades fabricam muita entropia. Dissipam as suas forças e esgotam-se em conflitos sociais, lutas políticas e tensões psíquicas que fazem nascer nos indivíduos. E os valores sobre os quais repousam de início, são consumidos inexoravelmente (...) e as sociedades perdem progressivamente o seu vigamento e tendem a pulverizar-se, reduzindo os indivíduos que as compõem à condição de átomos permutáveis e anónimos”. Como país já não somos o que éramos, não sabemos o que somos e muito menos sabemos o que seremos. Aprenderemos com as tragédias, colmatando o vazio que temos, alimentando-nos de projectos, ou procurando tirar dividendos do horror a que assistimos e dos vícios que condenamos?

Mais força espiritual e educação ecológica nas escolas, em vez de “ideologias de género”, substituída por flora e fauna não só animal, mas sociopolítica, criaria uma sociedade com menos flores murchas,ou sem pétalas, casais desconjuntados e mais famílias felizes… sem filhos de raízes envenenadas.

Todos nascemos originais, mas muitos morrem como fotocópias, num país constantemente adiado, de “marianos e mariolas”, embora cheio de petulância política e sebo intelectualizado. Enfim…



 

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Rosas de Assis

25 agosto 2025