Período de férias é tempo de repouso, de descanso; para alguns do cansaço de descansar.
No entanto, mais que um tempo de inutilidade, de ociosidade, é uma ocasião para rever a vida, refletir… de viagens, de contemplação, de leitura, silêncio, oração, apuramento, e mesmo de banhos ao sol nas praias douradas. Para os portugueses esta sedução do mar excita-os, e ajuda a esquecer as mágoas, embora dourando, edulcorando a dor, abrindo as rugas da fronte com a intensidade do sol, ou mergulhando na aridez do deserto e florestas como ossos.cremadas.
É um tempo de evasão, suspensão das tarefas do quotidiano nem sempre marcado pela alegria de viver a rotina do trabalho, a esquecer as preocupações e aflições,em imagens de guerra que nos assustam com as consequências na carestia de vida das famílias mais humildes.
É um tempo de viagens nas nuvens, na morrinha e bichas dos aeroportos. Voamos muito, mas não aterramos, nem nos apercebemos da beleza dos rios, das montanhas e paisagens, do diáfano das nuvens algodoadas como da grandeza da ciência, que nos pôs a voar rápido, aproximando distâncias, ao encontro de outras paragens, mundos e culturas.
Partilhamos emoções e comparamos países, civilizações, desenvolvimento, e recordamos, ou vivemos em nostalgia o que deixámos na viagem do pensamento e da memória, tornando-nos mais ricos, cosmopolitas e humanos.
Percorrer esta Europa, mas por terra,admirar a paisagem, as florestas verdejantes, policromas nas bermas das auto-estradas e a organização dos espaços em simetrias bem calculadas; a construção de casas bem concebidas e integradas, devia ser uma lição para quem visita catedrais monumentos e arte concebida por grandes engenheiros e arquitectos, pintores como lições do passado, exemplo de beleza e maravilhas do espírito humano.Tudo isto em contraste com as guerras de destruição do ambiente, poluição,provocando fome e a miséria que se instala nos grandes centros, como formigueiros e antros de podridão a que os poderes constituídos não podem ou não querem responder .
Assim visitei Paris, cidade das luzes, que muito cedo conheci, e me fala no génio dos seus escritores e tradições, na arquitectura dos seus palácios, vivendas senhoriais, e catedrais, que falam de um passado rico, mas desafiante com tantas raças, religiões e culturas miscigenadas em convénio, conluio ou conflito, onde vivem mais de um milhão de portugueses. Com razão a segunda maior cidade portuguesa no estrangeiro.
Que significa isto para nós? Aceitamos de olhos fechados esta resignação e expatriação como um prego no sapato da nossa incapacidade? Talvez a resiliência de um povo sacudido da sua pátria, numa diáspora que nos devia envergonhar, mas continua na geração de filhos e netos, cada vez mais distantes,porque perderam a sua língua e a nobreza da sua identidade… Povo de emigrantes no passado, agora de imigrantes. Porquê?!... É verdade.Portugal desenvolveu-se, mas falta ainda muito para ser verdadeiramente europeu. A pouca visão dos políticos, em tricas, ideologias e visões travesti, atrasou-nos nas grandes questões a que tínhamos de responder neste espaço de bem-estar e de desenvolvimento simétrico melhor integrado.
Em muitos aspectos recuámos, embora com um humanismo vesgo, que pode hipotecar o nosso futuro condenados à mediocridade com parcos horizontes. A França também em crise, povo acolhedor que deu a mão aos mais pobres, é um exemplo de coragem. Inquinada nas suas raízes cristas é um exemplo e modelo de coragem na reconstrução da Catedral de Notre Dame – seu ex-libris mais querido –, onde se investiram mais de 400 milhões de euros, restituída ao seu original, em que trabalharam mais de 50 mil operários especializados, durante quatro anos, continua um chamariz e fascínio para milhões de turistas, que, fazendo coxia a visitam, esperando horas pela entrada. Que simboliza tudo isto numa Europa que não quis o Cristianismo na Constituição Europeia? Não estaremos a esquecer a nossa cultura, substituindo-a pelo wok, em razão de um apateísmo anódino, a perder as raízes cristãs, que nos fizeram grandes e nobres nos nossos propósitos e cultura?Tudo isto aprendemos e lembramos nas viagens… O que diríamos de nós, com deserto em igrejas, escassez de vocações, e indiferença de cristãos batizados, mas longe de certos parâmetros e valores?!...