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Comunidade cristã

Hoje proponho uma reflexão sobre o ideal de uma comunidade cristã.  

A ela se referem os Atos dos Apóstolos: 2, 42-47; 4, 32-35; 5,2-16, cuja leitura recomendo. Aliás, todo o livro deve ser lido de vez em quando. É a primeira história da Igreja.

No primeiro daqueles textos (2, 42-47) apontam-se as principais caraterísticas da comunidade cristã de Jerusalém, que o mesmo é dizer da Igreja de Jerusalém. Diz-se que os seus membros eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações.  

  

a)  Ser assíduo ao ensino dos Apóstolos, isto é, prestar atenção ao Magistério da Igreja: estudar os documentos do Papa e dos Bispos em comunhão com ele.  

A importância da catequese, que se não deve limitar à preparação para a primeira comunhão, para a profissão de fé e para o crisma. A catequese de adultos é uma necessidade.  

Aperfeiçoar e atualizar os conhecimentos religiosos é dever de todo o cristão. Conhecer o pensamento da Igreja sobre os problemas que se colocam aos homens de hoje.

  

b)  Também hoje é dever dos cristãos formarem uma verdadeira comunidade de irmãos. Viverem a mesma fé e respeitarem as mesmas normas disciplinares. Não se arvorarem em mestres mas serem fiéis ao Mestre. Não alimentarem rivalidades ou bairrismos doentios.

O vedetismo é tentação a resistir. Se, em vez de usarem a mesma linguagem, as pessoas têm a preocupação de sobressaír, preferindo a novidade à verdade, a opinião de um teólogo ao Magistério da Igreja…

A Igreja é uma comunidade de pessoas e não um conjunto de indivíduos, indiferentes aos problemas dos que, só teoricamente, comungam da mesma fé.

A comunhão (comum união) exige que se saiba acolher e respeitar o outro, que tem as suas qualidades, as suas limitações, a sua personalidade própria. A unidade, na Igreja, não se identifica com a uniformidade.

  

c)  A assiduidade no partir do pão lembra a participação na Eucaristia.

Falta-se sem motivo à Missa dominical. Vai-se à Missa por ir. Há quem esteja na Missa mas não participe, não dialogue, não reze. Quem fique de consciência tranquila a acompanhar a Missa pela televisão quando a verdade é que quem pode ir à igreja o deve fazer.

A sociedade materialista e consumista em que vivemos encarrega-se de preencher o fim de semana com diversas atividades e nem sempre existe o discernimento necessário para distinguir o essencial do secundário. Nem sempre se reivindica a autonomia suficiente para que seja cada um a programar o fim de semana e fazer a gestão do tempo de que dispõe.  

  

d)  Assiduidade à oração. É preciso ter tempo para rezar. Viver em clima de oração, fazendo da vida um contínuo louvor a Deus.

Deus é, na vida de algumas pessoas e comunidades, o grande ausente. Alguém a quem se recorre em momentos de aflição, ignorando por completo a oração de louvor e de ação de graças.

Há aldeias onde se deixou de rezar o terço ao domingo à tarde. Onde já se não reza às Trindades. Há famílias, também, onde a televisão tirou tempo à oração.  

  

e)  Na comunidade de Jerusalém os cristãos tinham tudo em comum. Repartiam, voluntariamente, uns pelos outros.

Que nas diversas comunidades se preste atenção à atividade socio-caritativa, como recomendava Bento XVI na encíclica «Deus é Amor». A atividade da Igreja desenvolve-se em três grandes áreas, todas elas importantes: evangelização, sacramentos, caridade.

Não é verdadeira comunidade cristã a que se não organiza e mobiliza de forma que no seu seio não haja pessoas carecidas do necessário para uma vida digna.  

Em lugar de repartir há, por vezes, a preocupação de acumular.  

A ambição do ter contribui para que se dê mais importância às coisas do que às pessoas. Para que se usem os bens materiais de forma egoísta e não solidária.  

Atua-se como se a propriedade privada fosse um direito absoluto ignorando por completo a função social da riqueza.

Silva Araújo

Silva Araújo

14 agosto 2025