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DESFECHO DE FÉRIAS ATRIBULADO

 

Estamos num período do ano muito desejado e também aproveitado para descansar. No entanto, há pessoas, certamente criminosas, que se servem destes tempos da pior maneira, assaltando casas vazias com os seus moradores em férias. Certamente que roubar é sempre um acto lamentável e sujeito a consequências judiciais duras, mas justas, enquanto protegem o bem de quem possui legitimamente aquilo que lhes é tirado dum modo sempre imoral.


 

Tudo isto vem a propósito duma conversa que eu tive, há pouco, com um meu amigo, que no regresso do seu tempo de descanso ferial, bem programado e desejado, encontrou o seu lar, exteriormente igual a si mesmo, mas completamente desertificado e revolto no seu interior. Inclusivamente, e isso custou-lhe, sob o ponto de vista sentimental, o desaparecimento de uma série de retratos familiares, que ele tinha respeitosamentre bem dispostos. Decerto, concluiu, a quem assaltou a casa, não lhe interessavam as figuras familiares em si, mas os caixilhos em que se encontravam dispostas. De facto, procurara realçar a sua estima pelas pessoas aí representadas, com bons e elegantes enquadramentos fotográficos ou mesmo de pintura. E ainda acrescentou: “O que mais me penalizou foi o desaparecimento de uma pequena foto do meu filho Eduardo, que não esteve nesta terra mais do que vinte dias. Felizmente, tive o cuidado de o baptizar, porque desde o momento em que nasceu a sua saúde não prometia um futuro prolongado...”


 

Tentei, quanto pude e soube, não apenas animá-lo, mas também lamentar o que sucedera. Perguntei-lhe se tinha alguma pista sobre os autores do assalto. Respondeu-me que, pessoalmente, não suspeitava de ninguém, nem fazia ideia de como foi possível roubar tanta coisa e tão discretamente. É certo, observou, que a sua casa estava ligeiramente afastada do resto dos prédios e residências da cidade. Quando ele regressou de férias com os seus familiares, externamente, a sua moradia não apresentava nenhum sinal de desordem ou de ter sido visitada por um grupo de curiosos estranhos. Nem sequer a chave da porta principal, ao abri-la, ofereceu qualquer manifestação de resistência. Normalidade absoluta. Mas ao penetrar, descobriu que tudo fora esvaziado: móveis, quadros, cadeiras, camas, enfim, um deserto árido e cheio de pó manifestava que a “visita” devia ter sido feita poucos dias depois da sua ida para férias, que duraram vinte dias. 


 

Claro que tinha comunicado o caso à polícia, aguardando com certa ansiedade alguma pista. Mas até ao momento, e já tinham passado mais de três semanas, não houvera nenhuma informação. No entanto, os cuidados manifestados pelos investigadores, que entraram na casa e a vasculharam com muito zelo, davam-lhe uma esperança de que o “assunto” iria ter um desfecho animador.


 

Manifestei-lhe a minha concordância com a sua atitude, tanto mais que a sua família passava, de momento, dificuldades de alojamento. Quatro filhos: dois tinham ido para a casa de um irmão da sua esposa e os outros dois para a de uma sua irmã. O casal alojara-se no andar dos sogros e começara já a comprar algumas camas e móveis para, rapidamente, poderem voltar a viver na sua casa.


 

Pe. Rui Rosas da Silva

Pe. Rui Rosas da Silva

11 agosto 2025