O país arde por estes dias, a floresta é destruída um pouco mais a cada vinte e quatro horas. Desfaz-se com o fogo o património de muitos que, às vezes, é o único que as pessoas possuem. Os incendiários continuam a andar por aí e, mesmo quando são apanhados com a mão no isqueiro, não são punidos exemplarmente e ainda menos obrigados a indemnizar os que se vêem atingidos pelas suas acções criminosas. Pode haver lei que preveja consequências para os crimes praticados, mas a aplicação da mesma não tem surtido efeito que sirva de referência para o futuro. Há quem não a respeite e outros que a tentam driblar. Não fosse assim, não aconteceriam deflagrações de incêndio a altas horas da noite, a reincidências por parte de prevaricadores com cadastro e nem iniciativas de antecipação de programas de festas só para não fazerem coincidir as actividades com uma faixa de proibição que a lei estabelece. O país tem andado incandescente e o único comportamento responsável deveria ser a preservação da segurança das populações, logo, a abstenção total e absoluta de desafios desaconselháveis.
Infelizmente, às vezes, a vaidade é grande e alguns responsáveis procuram contornar os regulamentos e a lei para conseguirem os fins em vista: ficar bem vistos, obter popularidade. Soube-se a semana passada que uma comissão de festas de uma determinada localidade decidiu antecipar uma sessão de fogo de artifício apenas para não ser acusada de prevaricar a lei. É verdade que pode ter cumprido a lei, mas, ainda assim, não deixou de ser irresponsável. O resultado foram cinco focos de incêndio. Isso leva-me a perguntar, como o faziam as palavras da primeira leitura da liturgia de Domingo passado exactamente sobre a vaidade: que aproveitou à comissão de festas “todo o seu trabalho e a ânsia com que se afadigou debaixo do sol?” A decisão tomada ao arrepio do que o bom senso exigiria, ainda que cumprindo as cláusulas legais, teve consequências negativas, como se constatou: acabou por, de alguma forma, ter estragado a festa, e levou a comentários desfavoráveis e de crítica relativamente aos responsáveis quando seriam esperados aplausos e louvores pelos próprios. Na verdade, quando não se pensa com sabedoria, e esta exige inteligência e ponderação, as consequências podem não ser as expectáveis e tornarem-se mesmo decepcionantes. Uma boa ideia, usada em tempos inapropriados, pode não servir para nada e ser mesmo contraproducente. Tantas preocupações e cuidados em fazer isto e aquilo, para quê? Ficaram a nu os valores fúteis daquela comissão de festas, pelo menos, no que respeita àquela decisão em concreto. As decisões, quaisquer que sejam, têm sempre consequências que devem ser bem avaliadas.
Podem ser várias as lições que podemos tomar das imprevidências como as referidas. Qualquer um de nós é propenso a tomar decisões com mais ou menos vaidade. A vaidade passeia-se no círculo de amigos, nas organizações, na política e até na guerra. A guerra da propaganda nos conflitos activos na Europa, como nos conflitos passados – desfiles de arsenais, afirmações de superioridade, ameaças –, são vaidade, como as promessas que se fazem numa campanha eleitoral sem consistência, certeza e determinação para a acção, apostando nas qualidades individuais e de grupo, não passam de vaidade. A vaidade afasta, não concilia. A vaidade promove e alimenta egos. A vaidade é capaz das coisas mais perigosas para a segurança dum país e do mundo. A vaidade é talvez mais frequente nos poderosos ou que tenham, de uma forma ou de outra, poder sobre os outros, mas existe em todos. A vaidade arrasta o egoísmo e condiciona a forma como se priorizam objectivos. Quando se decide para impressionar e satisfazer propósitos pessoais ou de minoria e não apenas por interesse da colectividade como um todo é a vaidade que impera.