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Os construtores da miséria

 


 

 


 

E escusadamente! Tudo poderia ser diferente. Tivesse havido bom sendo e sentido de responsabilidade. Capacidade de previsão. Inteligência no perdão. Já se passaram mais de cinquenta anos desde o abandono indigente e indecente das ex-colónias. Acontecimento mau. Sob todos os aspectos. E para todos. A ideologia soviética imposta e a impreparação dos movimentos de libertação para liderar ditaram a sina. Uma sina triste. Irreparável. E para sempre.


 

1 - Ao abrigo descabido dos valores da democracia emergente em Portugal, os “grandes líderes” do tempo tiveram a desfaçatez de entregar de forma irresponsável e ideológica os territórios de África a grupos impreparados, incultos, sem o mínimo de visão estratégica. Homens do mato tomaram autoritariamente o poder. Os resultados estão bem à vista de todos. Numa primeira linha, o que fizeram: ajuste de contas com aqueles que serviram a tropa portuguesa; confinar os “inimigos” em campos de reeducação (concentração); guerras civis mortíferas e ditaduras atrozes. Numa segunda linha, corrupção do pior nas “elites”; fome e miséria no povo. Destruição das estruturas físicas existentes e perseguição feroz com o abate sanguinário dos opositores.


 

2 - Eu leio todos os dias um jornal moçambicano. Como ex-combatente nesse território, dói-me ler as páginas negras da incompetência e da irresponsabilidade do partido que se colou ao poder desde 1975. Dói-me ler o que se passa nesse país maravilhoso. Muita miséria. Estradas esburacadas. Alunos com aulas ao relento. Doentes sem assistência. Raptos e insegurança. Guerrilha activa em Cabo Delgado. Violência urbana. Políticos e polícia corruptos. Eleições fraudulentas. Povo esfaimado. Pobreza com 93%.Tudo do pior num país maravilhoso. 

De territórios promissores e com grande potencial económico e social, construíram-se países caóticos, sem presente e obviamente sem futuro. Implantou-se a cleptocracia como regime “normalizado” e de forma descarada. Uma Justiça controlada vai protegendo uma oligarquia em ascensão sedenta de bens, de vida farta e de vaidade, enquanto a esmagadora maioria da população convive com a miséria e a repressão. 

Hoje, são países falhados que não conseguem, nem sabem como sair da teia do endividamento e da supressão das necessidades mais básicas da população, da Liberdade, apesar de terem riquezas naturais suficientes para conferirem uma vida digna e justa aos seus cidadãos.


 

3 - Um ponto bem claro - Não se põe em causa a independência desses territórios. Nem pensar. Era inaceitável manter o “status quo” em vigor em 1974 Também é questionável dar qualquer ênfase à loa de “África para os africanos (negros)”. Esta imbecilidade, associada ao ódio ao colono, levou à perseguição e consequente expulsão de milhares de cidadãos brancos, mestiços e outros que eram os pilares do grande desenvolvimento que se verificava nesses territórios. Com a estrutura económica desmantelada, só restava o atraso, o caos e a cultural miséria africana. É a realidade que existe hoje, cinquenta anos depois.


 

4 - Todos os dias, milhares de jovens africanos lançam-se à aventura, num puro acto de desespero, para chegarem à Europa, a tal Europa “exploradora, colonizadora e racista”, para fugirem à miséria. Muitos deles, ficam pelo caminho, deixando a vida e os sonhos de forma inglória nas águas do Mediterrâneo e do Atlântico.


 

5 - O poder político português, incompreensivelmente, ainda não prestou o devido e justíssimo reconhecimento aos ex-combatentes das colónias portuguesas. Numa primeira fase, os ex-combatentes foram “mal-tratados”, marginalizados e vistos como uma “vergonha” nacional. Depois, desprezados. Por fim, esquecidos. Hoje, são meia dúzia de vivos. Dentro de alguns, poucos, anos não restará nenhum. É tempo de fazer justiça. Justiça àqueles que deram a vida e parte dos seus anos de ouro na defesa da Pátria, quando foram chamados para o fazer. Não fugiram. Estiveram presentes. Quem não está presente é o poder político que continua a ignorar. Ou a fazer um triste papel de não reconhecer a coragem, a abnegação desses “bravos” que lutaram pela Pátria. 

 

Armindo Oliveira

Armindo Oliveira

3 agosto 2025