Diz o povo que “há doenças em certos doentes que só o tempo as resolve ou curará”.
E nós, devido à vivência que temos, estamos d’acordo e bem conhecemos esses males. Logo, subentende-se que a Mãe Natureza, o tempo e a própria estrutura física do doente – sem intervenção de algo ou de ninguém – irão resolver a cura. Mas resolverá? Ora isto é expectantismo.
Se há dores e males que vão perturbando e enfraquecendo o homem, outros se conhecem que podem contaminar todo um povo: refiro-me concretamente aos males do tempo perdido. Mas há muitas mais maleitas, sobretudo nas sociedades ditas organizadas onde se respira por vezes falsa liberdade e uma certa animalidade.
Nós por cá – assim nos parece – perdemos uma média de sessenta por cento do nosso tempo! Tem-se visto e sentido no todo nacional, que o país se encontra desterrado nas salas de espera ou no tempo perdido: indiferente, distraído, sonâmbulo e egoísta. Para aqueles que nada fazem e para aqueloutros que sofrem, o tempo é excessivamente lento, mas demasiado rápido para os que possuem carácter.
Gasta-se tempo à espera! Espera-se que a doença, dentro ou fora dos hospitais, passe. Espera-se por nascer e espera-se por morrer; espera-se pela noite e pelo dia; pela alegria e pela doença.
Espera-se pelo dinheiro do nosso trabalho e pelo médico; pelo advogado e pelo chefe da repartição; espera-se pela paciência e pela substituição dos governantes que actuam segundo a mentira… distribuindo expectantismo.
Espera-se nas longas reuniões a programar o que tantas vezes se não concretiza e espera-se pela esperança de se possuir brio individual e colectivo. Esperam os jovens, as aldeias, as vilas e as cidades e espera o povo a competência e a seriedade dos responsáveis políticos que não temos, mas que temos o direito de ter.
Nós por cá vivemos numa autêntica sala de espera, onde todos esperam por tudo, ou já por nada!
Recorde-se e faça-se reflexão sobre alguns graves problemas que permanentemente vão acontecendo na nossa sala nacional:
incendiários repetidos e outros não, sempre em acção, comandados para a destruição da floresta; os pedófilos, os incestuosos e os tarados do assédio, caras conhecidas (e não só), que vivem num mundo que não é deste reino; a droga, que entra e se vende por altos preços nas prisões de poucos guardas prisionais e em festas programadas; as muitas horas passadas nos empregos, sem que correspondam à produção desejada e possível e, a corrupção existente, onde não há justiça que a esmague.
O desemprego que não resolvem, provocando pobreza envergonhada, frustração e medos na vida; assaltos aos lucros fáceis devidamente organizados e a parasitologia social à vista; a violência em tantos lares, devido à instabilidade económica dos que têm de comer o arroz sem nada e de pagar a prestação da habitação, se habitação existir.
Recordemos a frustração permanente em diversas classes profissionais; a bagunça em, praticamente, todas as áreas dos serviços de saúde, da justiça e do ensino; as alterações - autêntico sobe e desce - em combustíveis, na luz e nos alimentos. Analise-se o futebol, onde uns são facínoras, outros, velhacos e ainda outros, rapaces - comportamentos que já passaram a vulgares ou a “pecados de estimação”.
E muitos mais casos maus se podiam mencionar, como bem vemos e sentimos!
Pobre país, paciente país que espera há mais de cem anos que estas tristes, perigosas e madraças repúblicas, deixem de colocar o povo à espera, nesta triste sala de esperandos, onde tantos, já com aspecto de múmias antecipadas.
Na jactância da política, onde abundam os defensores do “self-service” aos dinheiros do Estado, não se importam estes pincéis do expediente, de iludir e ostracisar quem neles confiou, imperando a promoção – pelas portas traseiras - das camarilhas, afilhados e quase famílias inteiras: enganam e iludem o povo que espera, e sempre com o apoio de televisões servilistas e seus analistas. Estes, afilhados, sobrinhos, primos ou amigos de alguém que “pode e manda”.
Com tanta expectativa imposta, com tamanha sala de espera e à espera de tudo, não passamos de portugueses que diariamente gasta moeda falsa, distribuída por políticos de dinheiro falsificado.
Sabe-se que a vida do homem não passa de um “esperar na vida” por uma vida autêntica, de felicidade e dignidade. Mas pertencemos a um vestíbulo ou choldra, tendo como única saída ou remédio, o tenebroso e perigoso desterro nas salas de espera.