Há um conjunto de temas a que o meu artigo de hoje poderia ser dedicado: as eleições presidenciais e a persistente ausência de um candidato que sendo Humanista e Democrata se assuma Conservador; a Lei da Nacionalidade e a mistura quanto a mim inconcebível que se está a fazer entre ela e a chamada lei dos estrangeiros; a dramática falta de professores; os incêndios; e a crise da e na habitação. Como não posso dar a cada um deles o espaço merecido, abordá-los-ei sumariamente.
– Eleições presidenciais: De acordo com a Constituição, o Presidente da República eleito deve jurar defendê-la, cumpri-la e fazer com que ela seja cumprida, mas isso não significa nem pode significar que o Presidente seja ou tenha de ser neutro. Se queremos um Presidente da República sem posição e sem opinião política, então de pouco nos serve um Presidente que é eleito por sufrágio universal. Ora se assim é, e se há candidatos já conhecidos que não escondem as suas opções políticas (o que é positivo), seria bom que um candidato humanista, democrata e conservador se apresentasse também aos eleitores. Se isso acontecer será saudável para pessoas como eu, se isso não acontecer votaremos por exclusão de partes.
– Lei da nacionalidade: A Assembleia da República, e bem na minha opinião, decidiu enfrentar de frente a questão dos imigrantes. Podemos concordar ou não concordar com a solução encontrada em todas as alterações à chamada lei dos estrangeiros, mas ninguém de bom senso poderia aceitar que o assunto continuasse quase ignorado por quem nunca o deveria ter menorizado. Há todavia um senão em todo este processo e esse senão é a lei da nacionalidade. Ainda que esta lei deva ser revista, não me parece correcta a confusão propositadamente feita entre as duas matérias. É verdade que há pontos de contacto, mas não deixa de ser verdade que eles não anulam o muito que distingue os dois assuntos. Só posso assim lamentar, que não tenha existido ponderação no modo como os temas foram tratados.
– Falta de professores: Finalmente há um Ministro, neste caso o da Educação, que assume com clareza o que para muitos era óbvio: estamos a ficar sem professores. O problema é sério, mas apenas resulta das más opções que ao longo dos anos foram tomadas. E essas más opções não se esgotam, como muitos dizem, na questão salarial ou nos apoios financeiros para quem exerce a profissão distante de sua casa. Elas também dizem respeito à progressiva falta de autoridade dos professores nas escolas, conduzindo desse modo à sua crescente desmotivação e a um imparável desgaste. Um sistema, por exemplo, que coloca todo o peso do mau aproveitamento escolar nos ombros dos professores é um sistema cego, insensível à realidade e que vive apenas para variáveis quantitativas dos resultados. Ora a não compreensão de todo o fenómeno, pode conduzir a que tenhamos novos professores desprovidos de vocação, alheados do interesse particular que a função de ensinar deve sempre suscitar. Acredito que o Ministro da Educação está consciente dos desafios que se avizinham e não deixará de estar atento quer à formação dos novos docentes, quer ao modo como o seu trabalho pode vir a ser desenvolvido.
– Incêndios: Convido os leitores do Diário do Minho a verem e ouvirem tudo quanto foi apresentado e dito a este respeito nos últimos vinte anos. Verificarão que os intervenientes podem ser outros, mas que as análises e as conclusões são exactamente as mesmas. Sucedem-se os governos e mudam os ministros e tudo fica igual. É cruel dizê-lo, mas é ainda mais cruel ter motivo para o dizer. Nada ou praticamente nada é feito para evitar o problema. Não sei a razão, não imagino o que impede de actuar quem deve actuar e assisto ano após ano à destruição das nossas florestas. Porém, há uma coisa que sei: o Estado que exige aos proprietários, e bem, que limpem os seus campos e matas é o mesmo Estado que não limpa e que não preserva o que é seu. Ora um Estado que pune quem não cumpre e é negligente na propriedade que está a seu cargo é um Estado que se desrespeita e ao desrespeitar-se corrói a sua autoridade.
– Crise na habitação: Não sendo nem pretendendo ser um conhecedor da matéria limitar-me-ei a fazer uma simples pergunta: poderá o problema da falta de habitação ser duradouramente resolvido sem se pensar no desenvolvimento integral do país? A pergunta inevitavelmente nos remete para uma outra: Portugal é apenas o seu litoral e as suas grandes cidades? Na realidade se quando falamos de falta de casas nos remetemos essencialmente ou quase exclusivamente a falar da grande Lisboa, do grande Porto, de Braga, de Aveiro de Coimbra ou de Setúbal, estamos a assumir que o drama não terá fim. E não terá fim pela simples razão de que a ausência de actividade económica capaz de gerar empregos atraentes nos outros pontos do território, conduzirá de forma inevitável a uma contínua concentração de pessoas nos mesmos locais. Ignorar esta situação pode ser cómodo ou até conveniente para alguns, mas apenas revela a falta de um pensamento global.