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Férias de escutar e Dia dos Avós e Idosos. Só gastronomia?

Estamos em tempo de férias e de encontros, e no dia de avós e de idosos. Poderá haver oportunidades e surpresas.

 

As narrativas de acolhimento aos três peregrinos por Abraão no deserto e o que foi feito a Jesus em Casa de Marta e Maria, em Betânia, (Gen. 18 e Lc.10, 38-42), oferecerão semelhanças com o que poderá acontecer aos leitores em férias e em múltiplos encontros programados e casuais com familiares, amigos e desconhecidos? Há encontros assimétricos que podem acabar em simetrias de reciprocidade, de relações humanizadas de prestar e receber acolhimento. 


 

Abraão, junto da sua tenda e da árvore de Mambré e dia de calor, esperava que só lhe competia acolher bem e acabou por ser acolhido com a promessa inesperada de um filho na velhice. Acolher peregrinos e familiares idosos ou jovens não tem de ser só com ofertas de gastronomia e cozinha, como as modas estão a empolar as relações nas cidades e aldeias. Faz doer que seja em simultâneo de cenários calamitosos de fome que partem o coração como em Gaza. Já lá vamos, às gastronomias. Receber e oferecer cuidados de acolhimento e hospitalidade são arte de harmonizar a mente, o coração e as mãos; e ainda as necessidades humanas.

Os grandes hospitaleiros aprendem a acolher quando reconhecem e vivem a experiência da hospitalidade do coração compassivo de Deus por eles e os torna acolhedores. 


 

Leão XIV lembra que mesmo aos idosos: «Deus, na Bíblia, mostra várias vezes a sua providência dirigindo-se a pessoas idosas. Foi o que aconteceu a Abraão, Sara, Zacarias, Isabel e também com Moisés, chamado a libertar o seu povo quando tinha 80 anos. Com estas escolhas, Ele ensina-nos que, aos seus olhos, a velhice é um tempo de bênção e graça, e que, para Ele, os idosos são as primeiras testemunhas da esperança” (Mensagem do Dia dos Avós e Idosos). 

Os jovens também podem reconhecer os desígnios e a missão com que Deus os surpreende, e darem esperança aos que mais precisam dela. Abraão desfez-se em atenções de prestar hospitalidade; contudo esqueceu que os três jovens (Deus trinitário velado neles) tinham para ele um dom maior, um filho na velhice dele e da esposa.


 

Marta queria preparar e oferecer um banquete de festa e precisava da ajuda da irmã. Esqueceu-se que Jesus queria oferecer-lhe o dom maior d´Ele e da sua Palavra como já estava a oferecer à irmã (Lc.10, 38-42). 


 

Se em muitos casos o acolhimento integral começa pelas necessidades básicas da pirâmide de Abraham Maslow: alimentos, abrigo, proteção, não significa que tenha que ser sempre assim como a teoria pretende. 


 

Aquelas crianças a morrer à fome em Gaza, e em qualquer parte do mundo, também precisam de presença de corações de confiança e esperança, do calor e amor, que acompanhem as pessoas enquanto viverem até atravessar as paredes opacas do sofrimento humano final e as unam ao amor do Pai na imensidão de alegria sem lágrimas nem dores. Lembremos a palavra de Jesus: «Maria escolheu a melhor parte que não lhe será tirada». O melhor não será tirado. E os alimentos? São fundamentais para a vida enquanto se viver no corpo. Mas refletir e agir bem também é importante e ajuda a saúde. As condições e idades contam para a saúde que pode ser tirada. 


 

As estatísticas vão repetindo que a longevidade se dá mal com pesos pesados e com excessos de sal, açúcar e álcool, e outros alimentos, apregoados em excesso nos festivais de gastronomia. O acolhimento dos idosos, além de alimentos saudáveis, pede acolhimento diversificado para a sua audição limitada, com mais escuta de quem os recebe e dicção treinada de cada palavra, acento, sílaba, virgula, já tão rara mesmo nos locutores e leitores, em voz alta, para grupos com idosos que os compreendam. Será que se poderá pedir igual treino também aos próprios idosos? Nem sempre. A alimentação não é todo o acolhimento.

Os jornais dizem que os portugueses são dos que mais gastam em alimentação na Europa, mas talvez convenha lembrar que nos alimentos oferecidos nalguns restaurantes as escolhas saudáveis para idosos são raras. Mais idade, menos estômago, menos apetite, menos dentes para mastigar e menos saúde para se servir dos alimentos habituais. Será que a carne e, mais, se é dura, e tudo o que é mal cozido, é comida de idosos? Nem a fruta habitual, verde, e que não amadurece nem adquire paladar. 


 

Os alimentos processados, ultracongelados, sempre em aumento e sempre mais irreconhecíveis, combinam mal com idosos avançados. São pouco ou nada indicados para eles. Experimente o leitor pedir no restaurante se tem ementa para idosos e verá a cara do servente. Alimentos de misturas processadas e de enlatados de fábrica, peixes e carnes moídas de países distantes, de rios e mares poluídos, congeladas prolongadamente, salada de frutas verdes geneticamente modificadas, tomates encortiçados, não têm gosto, não amadurecem nem apodrecem; a carne de frangos criados à pressão de químicos serão alimentos saudáveis de idosos? E as sobremesas de bolos e pudins com natas supercongeladas há meses serão indicadas? Não irão afetar a saúde de alguns idosos e fazer engrossar os 30% dos obesos que as estatísticas mantêm sob aviso amarelo e vermelho? 


 

Harmonizar as práticas de acolhimento torna-se um desafio cada vez mais premente para os tempos apressados e gananciosos que se atravessam. «Nem só do pão vive o homem, mas da palavra que sai da boca de Deus» (Mt. 4, 4).

Pe. Aires Gameiro

Pe. Aires Gameiro

30 julho 2025