Vou a meio do livro “O menino que perdeu a guerra”, de Julia Navarro. Domingo, quando escrevia a crónica semanal que aqui hoje coloco à disposição dos prezados leitores, dei-me a olhar para a parte superior de uma das páginas ímpares onde se repete sistematicamente o título da obra. Não sei o que irá acontecer com Pablo, um menino espanhol que foi enviado para a Rússia durante a segunda guerra mundial, nem tenho a certeza que o título tenha a ver com ele, uma vez que há outros meninos referidos e/ou activos no enredo, mas a autora quis distinguir um que acredito ser ele, o Pablo. O que é que isso tem a ver com o que eu pretendia escrever? Talvez tenha alguma ou muita coisa a ver – ainda não sei que guerra é que o menino pode vir a perder –, mas aquele título serve bem o objectivo das linhas de crónica que já tinha lançado para a folha branca de word que abrira previamente.
Decorre uma guerra que já dura há mais de ano e meio – fará dois em Outubro e não se vislumbra que termine antes – e que tem sido palco das maiores atrocidades. Começou com um ataque atroz, cobarde, pela calada, por parte de um dos beligerantes e continuou por parte do que fora atacado com atrocidades diárias e permanentes sobre uma população que nada teve a ver com os ataques assassinos, ainda que tenha convivido com o grupo terrorista, que foi o gatilho do conflito, e os membros daquele se tenham escondido entre os dois milhões de habitantes da Faixa de Gaza. Não se vê o fim da contenda que envolve o Hamas, o tal grupo terrorista que militava na Palestina, sobretudo, na Faixa de Gaza, e o Governo de Israel que não encontrou, até agora, outra forma de atingir os elementos do Hamas a não ser atacar a eito uma população sem armas e, acredito mesmo, sem qualquer culpa. Velhos e crianças, para além de outros adultos, perderam as suas casas, foram obrigados a fugir para locais supostamente mais seguros, a passar necessidades de todo o tipo, a deixarem para trás entes queridos mortos pelas bombas e pelas metralhadoras dos soldados de Israel e mais recentemente a passar fome e até a morrer de fome. Têm sido de partir o coração as imagens de crianças em situação de enorme fragilidade – verdadeiros esqueletos vivos, apenas com pele e osso – e anúncios de muitas mortes diárias. Cada imagem é mais perturbadora do que a anterior. Claro que haverá outras pessoas na mesma situação, mas a que a comunicação social não dá tão grande destaque. Há pressa a que o mundo tome consciência do que se passa no Médio-Oriente e aja de modo a travar a fúria cega, imparável e destravada do Governo de Israel.
Todos os que vão ficando entre os escombros dos edifícios civis e hospitais bombardeados, os que são abatidos pelas balas insensíveis enquanto esperam por um pouco de comida, os que morrem de fome, vão perdendo a guerra contra um inimigo que não olha a meios para atingir os seus fins, ainda que saiba que no meio estão pessoas inocentes. Foram muitas dezenas de milhar as que sucumbiram desde Outubro de 2023. Serão muitas as crianças que não chegarão a ser jovens e muitos jovens que não chegarão a ser adultos e a viverem uma vida a que tinham direito. Infelizmente, neste pedaço de história em directo que nos apanha apreensivos, não há só um menino, como no livro, que perde a guerra. Sabe Deus quantos haverá, mas serão certamente muitos. Preocupam-me todos, mas, sobretudo, os mais novinhos. Como a guerra continua, só posso dizer que os meninos vão perdendo a guerra. Na verdade, a realidade é bem mais madrasta, os meninos vão perecendo, mortos pelas bombas, as metralhadoras… E não bastasse isso, também pela fome. Mas, que mal fizeram? Como pode o Governo de Israel proceder assim? Até quando? Quem trava a tirania assassina? Reconhecer o Estado da Palestina é o único caminho sensato e evita que os meninos continuem a perder a guerra e o futuro.