Depois de ler sem espanto, o artigo de Bárbara Reis, no jornal Público, intitulado, “Pela primeira vez em 30 anos, há mais autocracias do que Democracias em 179 países”, o que não espanta perante o aumento voraz da estupidez humana que se consolidou entre dirigentes políticos que se assumem como democratas, que tudo tem feito, ao contrário do que apregoam, para abrir portas aos populismos e extremismos nos seus países, questiono-me sobre as virtudes do novo ato eleitoral aprazado para dia 12 de Outubro e do que já se sabe. E o que se conhece, para lá das estratégias do costume, das questões administrativas e prazos legais, é que grassa uma “pobreza franciscana”, para lá das propostas óbvias de resolução de problemas como a Habitação, a mobilidade ou o apoio à natalidade. Ainda não li e acompanho diariamente, na imprensa local e nacional, uma visão integrada, capaz de alavancar e suportada em indicadores, com metas concretas e ambiciosas. Uma missão e Visão para uma Cidade, um território que percebe os limites do seu crescimento, sabe gerir o desenvolvimento, é rigorosa nas dinâmicas e disciplinadora no cumprimento das regras e dos deveres e na assunção dos direitos de e por todos, com total respeito pelas regras da transparência e uma forte disciplina assente nas regras do “compliance". Confesso que, para lá das políticas enunciadas pelas inúmeras candidaturas, de Norte a Sul, pelos(as) diferentes candidatos(as,) importantes, não tenho dúvida, as cidades precisam, as vilas, mesmo os pequenos territórios, precisam de ter uma estratégia que, infelizmente, não pode ser desenhada, como alguns pretendem para 2050 – dada a imprevisibilidade -– mas para ciclos não superiores a 10 anos, ganhando robustez para governar “no caos” face às mudanças geopolíticas, à aceleração tecnológica, às mudanças climáticas e à escassez do capital humano. Infelizmente, não vejo uma mobilização para as cinco virtudes da Sustentabilidade urbana: Política, Económica, Social Ambiental e Tecnológica que, por seu turno, bebem e se sustentam nos cinco pilares dos objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, conhecidos como Agenda 2030: Pessoas, Planeta, Prosperidade, Paz e Parceiras. Chegar aqui, de forma estruturada, com indicadores e metas plausíveis e passíveis de serem auditadas e verificadas pela ciência cidadã, não é fácil, mas é exatamente por isso que o grau de exigência que se coloca hoje a quem pretende trabalhar na governação local, há muito que deixou de ser baseada numa mera folha de Excel ou um PowerPoint muito bonitinho, ou mapas de gestão financeira e/ou contabilística que continuam a não cumprir as regras da simplificação e da transparência. Se cada leitor ou leitora se der ao trabalho de pensar como têm evoluído as metodologias de gestão a nível local, verificará que aqui e ali, aparecem boas práticas, neste ou naquele capítulo, mas, em termos gerais, continuamos longe das melhores práticas internacionais, ainda que possamos ter, em boa verdade se diga, boas políticas, em áreas específicas. Mas os desequilíbrios continuam a ser muitos; uns sobressaem na Educação, mas continuam a não ter a rede de saneamento completa; outros destacam-se na mobilidade, mas são péssimos na segurança de pessoas e bens. Ninguém trabalha com uma visão integrada por uma razão meramente política a estratégica: é que ela atrasa. Já sabemos que sim. Tudo o que é bem feito requer tempo. Tudo o que é pensado para durar estruturalmente demora e não obedece a ciclos de menstruação política. Infelizmente, perdemos muito tempo por não sermos claros na apresentação de uma Visão e Missão para as nossas cidades. Os programas enchem-se de promessas, de obras, de soluções e a maior parte das vezes, são a base de novos problemas à espera de mais uma eleição que os resolva.