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Alterações Climáticas e Saúde Mental: Um desafio atual

Enquanto Portugal e a Europa atravessam uma onda de calor sem precedentes, têm-se multiplicado os alertas de investigadores sobre os efeitos adversos das temperaturas extremas na saúde mental. Embora a extensão exata deste impacto ainda não esteja totalmente esclarecida, estudos recentes publicados em revistas da especialidade apontam para uma ligação crescente entre fenómenos climáticos extremos e sintomas como ansiedade, perturbações do sono e aumento da procura por cuidados de saúde mental. Um pouco por toda a Europa, as urgências psiquiátricas apresentaram picos de procura (até mais 10%) durante os últimos dias de calor intenso.

Todos os dias somos confrontados com notícias que mostram as múltiplas faces da crise climática, sendo as temperaturas extremas um dos sinais mais evidentes — e, para muitos, mais inquietantes. Para além deste, o agravamento de eventos como secas, incêndios florestais, furacões, tempestades e inundações tem o potencial de gerar respostas emocionais intensas nos indivíduos, sobretudo entre aqueles que veem, de forma súbita, a sua vida colocada em risco.

Por si só, a vivência destas catástrofes faz as populações enfrentar um risco elevado de desenvolver ansiedade, depressão, stress pós-traumático ou luto prolongado. Além disso, a exposição contínua a condições de vida precárias – como a perda de habitação, insegurança alimentar ou dificuldades no acesso a cuidados médicos – pode agravar ainda mais o sofrimento psicológico dos indivíduos. Em muitas comunidades, os efeitos emocionais prolongam-se no tempo, atravessando gerações e afetando crianças, adultos e idosos. Nessas áreas, o acesso a cuidados de saúde, em geral, e a cuidados saúde mental, em particular, também é frequentemente limitado, tornando ainda mais difícil para os indivíduos afetados obterem apoio adequado.

Importa ainda lembrar que o impacto das alterações climáticas não se resume aos eventos extremos visíveis. A chamada "ansiedade climática" – um sentimento difuso de angústia e impotência perante a degradação ambiental – está a ganhar expressão, em particular entre os mais jovens. A exposição constante a notícias sobre a degradação ambiental, perda de biodiversidade e cenários apocalípticos de aquecimento global pode gerar um ciclo vicioso de sentimentos de impotência, tristeza profunda e paralisia emocional. 

É essencial que o impacto das alterações climáticas na saúde mental seja abordado de forma eficaz. Do ponto de vista educativo, torna-se essencial incluir a dimensão psicológica da crise climática nos programas de literacia em saúde, tanto nas escolas como nas campanhas públicas. Informar as pessoas sobre as possíveis reações emocionais diante de desastres ambientais – e ensiná-las a procurar ajuda – é uma forma de prevenir sofrimento evitável e promover a resiliência. A formação dos profissionais de saúde para responderem a este novo tipo de trauma coletivo é igualmente fundamental.

Preparar os serviços de saúde mental para responder aos desafios do clima, promover o apoio às vítimas de desastres e integrar a saúde emocional na agenda climática são medidas essenciais para proteger não apenas o ambiente, mas também a saúde das pessoas. À medida que o mundo enfrenta os efeitos visíveis do aquecimento global, é fundamental não ignorar o impacto silencioso, mas profundo, que estas mudanças têm sobre a saúde psicológica das populações. Reconhecer esse sofrimento é, talvez, o primeiro passo para um futuro mais justo, sustentável e verdadeiramente humano.

Cristina Silva

Cristina Silva

26 julho 2025