Maria – reconheceu Hans Urs von Balthasar – «governa “escondidamente” a Igreja». De que forma? Acima de tudo, pelo conselho.
O mais célebre e nunca ultrapassado – em pertinência e acutilância – remonta a Caná da Galileia: «Fazei tudo o que Ele [Jesus] vos disser» (Jo 2, 5).
Não espanta que os cristãos se tenham habituado, desde cedo, a recorrer não só à intercessão, mas também ao aconselhamento de Maria.
Haverá melhor monitora que a Mãe para perceber a vontade do Filho?
Remonta ao século XV a invocação de Nossa Senhora como Mãe do Bom Conselho. O Papa Leão XIII adicionou-a à Ladainha e Pio XII confiou-Lhe mesmo o seu pontificado.
Apenas dois dias após a sua eleição, Leão XIV fez questão de visitar o Santuário mais célebre que Lhe é dedicado, em Genazzano.
Na altura (10 de maio), atestou publicamente «o dever e um profundo desejo de se acercar do Santuário de Nossa Senhora do Bom Conselho».
Acrescentou que, «durante toda a minha vida, Ela me acompanhou com a Sua presença maternal, com a Sua sabedoria e o exemplo do Seu amor pelo Filho que é sempre o centro da minha fé»
Não é despiciendo anotar que este Santuário está confiado à Ordem de Santo Agostinho, a que pertence o Sumo Pontífice.
A pintura inspira-se nitidamente no ícone bizantino «Glykophilousa», isto é, «Virgem da Ternura».
E, de facto, é sempre com extremos de ternura e ponderação que Nossa Senhora nos acompanha e aconselha.
Modelo de escuta, não é apressadamente que nos devemos abeirar da Sua maternal inspiração.
Conta Jean Lafrance que, um dia, foram consultar um célebre mestre espiritual acerca de uma decisão importante. Ele atendeu-os, mas nada disse e foi orar o mais possível.
Acontece que o tempo foi passando – uma hora após outra, um dia após outro – sem qualquer indício de resposta.
Então, os visitantes, já impacientes, aproximaram-se do mestre: «Dá-nos uma resposta, pois já não podemos esperar mais».
E a resposta chegou: «Que quereis que vos diga? Há cinco dias que eu ponho a questão à Santíssima Mãe de Deus e Ela ainda não me respondeu».
É cada vez mais importante – e curativo – saber esperar e escutar. Esperar e escutar ajudam-nos a acomodar a nossa vida à «pulsação» de Deus e não às nossas impetuosas expetativas.
Leão XIV não esconde que a Mãe do Bom Conselho o presenteou sempre «com uma luz, com sabedoria».
Os lugares eclesiais devem ser menos «parlatórios» e mais «escutatórios». O próprio Jesus identifica a Suas ovelhas como sendo aquelas que «escutam» a Sua voz (cf. Jo 10, 27).
É este o Conselho da Mãe a partir de Caná: escutar Jesus sem pressas. E seguir os Seus passos sem qualquer hesitação!