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“Bem-aventurado aquele que não perdeu a esperança”

 


 

“Bem-aventurado aquele que não perdeu a esperança” (cf. Sir 14, 2) é o título da bela e densa mensagem do Papa Leão XIV para o Dia Mundial dos Avós, a celebrar no próximo domingo1. São também muito sugestivos os itens que a estruturam e dividem: os idosos, sinais de esperança; sinais de esperança para os idosos; na velhice, pode-se ter esperança.

Depois de afirmar que “a esperança é, em todas as idades, perene fonte de alegria”, o Papa acrescenta que, “quando é provada pelo fogo de uma longa existência, torna-se fonte de uma bem-aventurança plena”. Leão XIV parte da Sagrada Escritura para afirmar que os idosos são sinais de esperança. Exemplos disso mesmo são Abraão e Sara, Moisés, Zacarias e Isabel. A incapacidade de gerar dos primeiros parecia hipotecar a esperança, mas a promessa e a intervenção divinas tornaram possível o que era humanamente impensável (cf. Gn 15; 17, 15-27; 21, 1-7); Moisés é chamado a libertar o seu povo quando já tinha oitenta anos (cf. Ex 7, 7); Zacarias e Isabel geram um filho, sendo ela estéril e encontrando-se os dois em idade avançada (cf. Lc 1, 18).

Se “a velhice, a esterilidade e a diminuição das forças parecem extinguir as esperanças de vida e fecundidade de todos esses homens e mulheres”, a verdade é, ao escolhê-los, Deus “ensina-nos que, aos seus olhos, a velhice é um tempo de bênção e graça e que, para Ele, os idosos são as primeiras testemunhas da esperança”. Por isso, “abraçar um idoso ajuda-nos a entender que a história não se esgota no presente, nem em encontros rápidos e relações fragmentárias, mas se desenrola rumo ao futuro”.

Constatar que “o número daqueles que estão avançados em idade aumenta cada vez mais torna-se, para nós, um sinal dos tempos que somos chamados a discernir, para ler bem a história que vivemos”. E leva-nos a pensar que “quantas vezes os nossos avós foram para nós um exemplo de fé e devoção, de virtudes cívicas e compromisso social, de memória e perseverança nas provações! A nossa gratidão e coerência nunca serão suficientes para agradecer este bonito legado que nos foi deixado com tanta esperança e amor”. Quem teve (ou tem) a sorte de conviver com os seus avós só pode tornar-se testemunha disto mesmo.

De modo belo diz o Papa a desejável complementaridade entre os mais idosos e os mais novos: “se é verdade que a fragilidade dos idosos precisa do vigor dos jovens, é igualmente verdade que a inexperiência dos jovens precisa do testemunho dos idosos para projetar o futuro com sabedoria”. Por isso, na velhice podem ter esperança aqueles são verdadeiros sinais de esperança.

Sugere também o Papa que se dê aos idosos sinais de esperança, em ano jubilar2, pois “somos chamados a viver com eles uma libertação, sobretudo na solidão e no abandono. Este ano é o momento propício para realizá-la: a fidelidade de Deus às suas promessas ensina-nos que há uma bem-aventurança na velhice, uma alegria autenticamente evangélica que nos convida a derrubar os muros da indiferença na qual os idosos estão frequentemente encerrados. Em todas as partes do mundo, as nossas sociedades estão a habituar-se, com demasiada frequência, a deixar que uma parte tão importante e rica do seu tecido social seja marginalizada e esquecida. Perante esta situação, é necessária uma mudança de atitude, que testemunhe uma assunção de responsabilidade por parte de toda a Igreja”. E tal só acontece quando cada um de nós assumir essa causa como sua!

Para que o discurso não se fique por algumas ideias, o Papa concretiza: “cada paróquia, associação ou grupo eclesial é chamado a tornar-se protagonista da ‘revolução’ da gratidão e do cuidado, a realizar-se através de visitas frequentes aos idosos, criando para eles e com eles redes de apoio e oração, tecendo relações que possam dar esperança e dignidade àqueles que se sentem esquecidos. A esperança cristã impele-nos continuamente a ousar mais, a pensar em grande, a não nos contentarmos com o satus quo. Neste caso específico, a trabalhar por uma mudança que devolva aos idosos a estima e o afeto”.

Garante o Papa indulgência jubilar a quem, de forma regular, visitar idosos em solidão, “quase fazendo uma peregrinação em direção a Cristo presente neles (cf. Mt 25, 34-36). (...) Visitar um idoso é um modo de encontrar Jesus que nos liberta da indiferença e da solidão”.

E termina a mensagem afirmando que “o bem que desejamos às pessoas que nos são caras (...) não desaparece quando as forças se esvaem. Pelo contrário, muitas vezes é justamente o carinho deles que desperta as nossas energias, trazendo-nos esperança e conforto”. A relação entre avós e netos, acrescento eu, é do mais belo e fecundo que existe e um dos melhores contributos para uma sociedade mais humana, equilibrada e coesa.

1A celebração deste dia, no domingo a seguir ao 26 de julho, dia dos avós de Jesus S. Joaquim e Santa Ana, começou em 2001, por decisão do Papa Francisco. Este é já o V Dia Mundial dos Avós. 

2Na mensagem, o Papa afirma que, “desde as suas origens bíblicas, o Jubileu representou um tempo de libertação: os escravos eram libertados, as dívidas perdoadas, as terras devolvidas aos seus proprietários originais. Era um momento de restauração da ordem social desejada por Deus, em que se sanavam as desigualdades e as opressões acumuladas ao longo dos anos” (cf. Lv 25). E acrescenta que, “na sinagoga de Nazaré, Jesus renova estes eventos de libertação quando proclama a boa nova aos pobres, a visão aos cegos, a libertação dos prisioneiros e o retorno à liberdade para os oprimidos (cf. Lc 4, 16-21)”.

Pe. João Alberto Sousa Correia

Pe. João Alberto Sousa Correia

21 julho 2025