Quando a pobreza cresce entre os mais jovens, os adeptos pela Democracia descem, as ideias populistas florescem, o radicalismo instala-se e a sociedade incapaz, claudica. Grosso modo, o panorama da degradação do sistema político em que vivemos, visto pelos jovens na Europa, retratado no mais recente estudo sobre o que pensam e como vivem, ajuda a perceber o que podemos e devemos fazer para mudar esta tendência. Na primeira semana de Julho, Thorsten Faas, politólogo da Universidade Livre de Berlim, um dos autores do estudo do instituto YouGov para a Fundação Tui, trouxe à ribalta novos dados sobre a degradação da perceção das virtudes da Democracia entre os jovens. A primeira conclusão a tirar é a de que "a forma como as pessoas vivem o funcionamento do sistema político está intimamente ligada à forma como vivem a sua vida quotidiana”. Não é por isso, de espantar, que mais de um em cada cinco jovens mostrem ter preferências por um governo autoritário, ou seja 20 por cento dos inquiridos, ainda que estes se situem maioritariamente à direita. O estudo, que abrangeu 6 mil e 700 jovens de países como a Alemanha, França, Reino Unido, Espanha, Itália, Grécia e Polónia, revela, mesmo assim, que 57 por cento ainda preferem a Democracia, destacando-se a Alemanha como o país com a percentagem mais elevada de aprovação (71 por cento). O estudo aponta ainda o espetro político em que se situam os jovens europeus com 19% à direita, enquanto há quatro anos eram 14%. Um terço (33%) vê-se no centro político e 32% descrevem-se como sendo de esquerda. Os restantes 16% não especificaram ou não sabem. Temas como a imigração, a migração, o sistema político no seu país, o sentimento de pertença à União Europeia, funcionamento do Parlamento Europeu, as questões de segurança ou a situação financeira pessoal, foram abordadas neste estudo que é realizado desde 2017 para a Fundação Tui, que financia projetos dedicados à juventude na Europa. Em quatro anos, os jovens tornaram-se mais críticos em temas como a imigração, passando a exigir maior restrição (de 26% para 38%), com particular destaque para os polacos, gregos e espanhóis. Uma das taxas mais baixas de satisfação diz respeito à satisfação com o funcionamento dos respetivos sistemas políticos, com as taxas a não ultrapassar os 9 por cento (Alemanha), uma montra que serve para os 27 e que encaixa muito bem no Portugal de hoje. Positiva é o sinal de pertença ao espaço europeu, questão que os jovens nem sequer colocam, com taxas de 66 por cento em média a considerar a adesão ao espaço europeu como boa, o que não quer dizer que gostem do funcionamento da Comissão Europeia (53 por cento dão-lhe nota negativa), com mais de metade a concordarem com a conhecida frase: “A UE é uma boa ideia, mas é muito mal implementada". A representação no Parlamento Europeu continua a ser um bico de obra e explica por que temos uma elevada percentagem de abstenção. Os jovens não sentem nenhuma empatia com os eurodeputados e se em 2019, 21 por cento ainda se sentiam fortemente representados, este estudo demonstra que esse número baixou para 15 por cento.