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O direito de ser e estar velho


 

1. Ser velho é um direito, como é um direito ser criança, ser adolescente, ser jovem, ser adulto.

Não compete a ninguém determinar o número de anos que cada um deve passar nesta fase terrena da vida. Essas contas, senhores defensores da eutanásia, não são da vossa competência. Só a Deus pertence fazê-las.


 

2. Um velho (não tenho medo da palavra, embora haja quem dela fuja e a substitua por idoso) não deixa de ser uma pessoa. Nem mais nem menos. Ser velho não é ser sucata.

Há quem afirme que velhos são os trapos. Não. Um velho é um ser humano como qualquer outro. Com direitos e deveres. 

Um dos grandes deveres é o de saber aceitar as suas limitações. Saber até onde pode ir. Saber aceitar ser dependente. Não ter receio de pedir ajuda e não considerar isso uma humilhação.

Ser limitado não significa ser inútil, pelo que um velho não está dispensado de fazer o que está ao seu alcance. Faz o que pode. Nem mais nem menos. Para o que não pode tem o direito de solicitar a ajuda dos outros, e ajudar um velho, suprindo de algum modo as suas limitações, é um dever dos mais ativos.


 

3. O direito de pedir ajuda não dispensa o velho de saber dizer as coisas. De dizer por favor e obrigado. De reconhecer os serviços que lhe prestam.

Aceitando as suas limitações, um velho não tem nada que ser resmungão, rabugento, preguiçoso.

Os velhos também têm direito a que se lhes faça justiça. A serem respeitados. A possuírem condições humanas de vida. A serem assistidos nas suas fragilidades. 


 

4. O lugar dos velhos é a família, onde deve haver espaço para três gerações: pais, filhos, netos.

Porque este ideal nem sempre é possível surgiram as respostas sociais dos centros de dia e dos lares a que preferem chamar estruturas residenciais para idosos (ERPIs). 

Têm por missão ser uma espécie de prolongamento da família. De proporcionar ao velho a assistência que a família lhe não pode dar.

Isto exige que nos centros de dia e nos lares exista um ambiente verdadeiramente familiar. Onde o velho não seja considerado um peso, não seja visto como fonte de receita, se sinta apoiado e acarinhado. Um lar não é um sótão nem uma arrecadação.


 

5. Pedir a ajuda de um lar não significa, para os familiares, desfazerem-se do velho. Os laços familiares permanecem e devem ser reforçados com gestos concretos de amizade.

Isto de mandar o velho para um lar por uma questão de comodismo… Isto de fazer do lar um depósito de velharias…

É injusta a sociedade onde o velho é marginalizado, desprezado, arrumado como peça fora de moda. 


 

6. A celebração do V Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, que acontece no próximo dia 27, longe de ser um conjunto de gestos folclóricos deve funcionar como despertador de consciências. Os direitos de uns são deveres para os outros.

Cito, a propósito, a mensagem do Papa Leão XIV:

«A fidelidade de Deus às suas promessas ensina-nos que há uma bem-aventurança na velhice, uma alegria autenticamente evangélica que nos convida a derrubar os muros da indiferença na qual os idosos estão frequentemente encerrados. 

Em todas as partes do mundo, as nossas sociedades estão a habituar-se, com demasiada frequência, a deixar que uma parte tão importante e rica do seu tecido social seja marginalizada e esquecida.

Perante esta situação, é necessária uma mudança de atitude, que testemunhe uma assunção de responsabilidade por parte de toda a Igreja. 

Cada paróquia, associação ou grupo eclesial é chamado a tornar-se protagonista da “revolução” da gratidão e do cuidado, a realizar-se através de visitas frequentes aos idosos, criando para eles e com eles redes de apoio e oração, tecendo relações que possam dar esperança e dignidade àqueles que se sentem esquecidos».

Silva Araújo

Silva Araújo

17 julho 2025