A democracia estará, como indicam alguns estudos sociológicos, doente? Será que os portugueses preferem viver sob o domínio de um regime autoritário do que no regime de liberdade de opinião e expressão oral ou escrita? Eu sei que há muitas conclusões sociológicas que são filhas de perguntas indutivas, isto é, o questionário proposto tem em si a resposta que se quer. Mas a verdade é que a democracia se fere a si mesma, porque há democratas que são mentirosos, aproveitadores para benefício próprio, incapazes de resolver os mais graves problemas sociais, e
isso leva ao descrédito do sistema democrático. Tudo isto é verdade e adquire forças de aceitação tácita. Mas uma coisa é a democracia e outra muito diferente é a ação democrata. Estes são homens cheios de defeitos, mas quem confunde religião com o clero, não a sente verdadeiramente ou não tem em si o discernimento suficiente para distinguir a mensagem do mensageiro. Somos nós que escolhemos os democratas e, se eles são maus, nós temos a nossa quota-parte da culpa porque os escolhemos mal. Numa ditadura não somos chamados a escolher, somos “treinados” a obedecer e quem desobedece tem dois caminhos, ou põe-se a panos ou cai de qualquer sacada como acontece na Rússia. Dizem que a grande corrupção está a ser um ditame desta democracia que temos e não tenho, como julgo que ninguém tem, argumentos para dizer o contrário. Mas temos liberdade para o dizer; o mesmo se não passa se estivermos numa ditadura. Aqui comes e calas-te ou se não te calas não comes, ou comes pancada no lombo. Vêm aí as eleições autárquicas e vejo que, em vez de aparecer candidatos locais, gente que se conheça bem para o indicar, aparecem uns senhores figurões políticos que nem sequer são de Braga, mas querem parecer que nos conhecem muito bem, quer nas feridas sociais, quer nos anseios populares. Caem de paraquedas numa invasão abusiva da nossa boa fé. Escolhemo-los porque são deste ou daquele partido sem sabermos quem é, donde vem e ao que vem, nem quanto à sua integridade moral. Mas vai ser eleito porque pertence “ao meu partido”. Depois, por que razão se queixa quando ele demonstrar que conhece tanto o concelho que o elege, como eu de lagares de azeite que nunca vi nenhum? É a democracia a funcionar no seu pior, uma vez que, se por um lado dá-me o direito de escolher, por outro lado, propõe-me um desconhecido; quero escolher um conhecido local. A democracia é uma mensagem boa, os mensageiros é que nem por isso. Alguns até já foram presidentes de câmara noutra autarquia. São os pincha-pincha. É porque a beiçada é boa. Então por que razão culpam a democracia? Porque culpam quem não tem culpa? Como diz certo juiz, “depois não se queixem”.