1. Na Bula de proclamação deste Ano Jubilar, «A Esperança não engana», o Papa Francisco recorda, no número 17, o primeiro Concílio de Niceia. Escreve:
«Durante o próximo Jubileu ocorrerá um aniversário muito significativo para todos os cristãos: completar-se-ão 1700 anos da celebração do primeiro grande Concílio ecuménico, o de Niceia.
É bom lembrar que já em diversas ocasiões, desde os tempos apostólicos, os Pastores se reuniram em assembleia com a finalidade de tratar temáticas doutrinais e questões disciplinares. Nos primeiros séculos da fé multiplicaram-se os Sínodos tanto no Oriente como no Ocidente cristão, mostrando como era importante guardar a unidade do Povo de Deus e o anúncio fiel do Evangelho.
O Ano Jubilar poderá ser uma importante oportunidade para tornar concreto este modo sinodal, que hoje a comunidade cristã sente como expressão cada vez mais necessária para melhor corresponder à urgência da evangelização: todos os batizados, cada qual com o próprio carisma e ministério, se sintam corresponsáveis pela mesma a fim de que muitos sinais de esperança deem testemunho da presença de Deus no mundo».
2. «O Concílio de Niceia, escreve ainda o Papa Francisco, é um marco miliário na história da Igreja. O aniversário da sua realização convida os cristãos a unirem-se no louvor e agradecimento à Santíssima Trindade e, em particular, a Jesus Cristo, o Filho de Deus, consubstancial ao Pai’, que nos revelou este mistério de amor.
Mas Niceia constitui também um convite a todas as Igrejas e Comunidades eclesiais para avançarem rumo à unidade visível, não se cansando de procurar formas apropriadas para corresponder plenamente à oração de Jesus: ‘Que todos sejam um só, como Tu, Pai, estás em mim e Eu em ti; para que assim eles estejam em Nós e o mundo creia que Tu me enviaste’» (Jo 17, 21).
3. O Papa alertava para um dos grandes escândalos dado ao mundo pelos que nos afirmamos discípulos de Jesus: as divisões entre nós.
Não correspondem, como é sabido, à vontade do Mestre, que pela união rezou na Oração Sacerdotal de Quinta-Feira Santa. Que haja um só rebanho e um só pastor (João 10, 16).
4. Contrariando esta vontade existem divisões no seio de comunidades cristãs. Há as igrejas católicas (de rito latino, de tradição bizantina, de rito oriental), as igrejas ortodoxas, as igrejas protestantes. Não refiro o nome de todas para não alongar o texto.
Continuam muito necessários o diálogo ecuménico e a oração pela unidade dos cristãos.
5. Hoje alerto, particularmente, para divisões existentes no seio de pequenas comunidades, como as igrejas domésticas que são as famílias. Alerto para divisões existentes no seio da comunidade paroquial. Às vezes no grupo coral ou na confraria.
6. Porque existem divisões?
Basicamente, porque nos não aceitamos e respeitamos como seres iguais e diferentes que somos.
Porque confundimos unidade com uniformidade, recusando aceitar as legítimas diferenças que há entre nós, como nos dedos da mesma mão.
Porque nos arrogamos o estatuto de mestres dos outros em lugar de procurarmos aprender uns com os outros.
Porque, em vez de discípulos de Jesus manso e humilde de coração (Mateus 11, 29), preferimos ser mandões. Procuramos impor aos outros as nossas discutíveis opiniões ou, pior ainda, os nossos caprichos e manias.
Porque não sabemos mandar ou nos recusamos a obedecer.
7. Cada um que se examine relativamente a divisões existentes nas comunidades a que pertence. É fácil responsabilizar os outros mas continua muito atual o dito evangélico do argueiro e da trave (Mateus 7, 3-5). Cada um que olhe para si.
Lembro a sabedoria de uma quadra popular: «Se à minha porta tem lama, /à tua tem um lameiro./ Quando falares dos outros /olha para ti primeiro». A culpa continua a morrer solteira.
Por mim falo: há um grande caminho a percorrer se quero viver como filho do único Pai, o Pai Celeste, e verdadeiro discípulo de Jesus.