Há dias, em 26 de Junho, tive a honra de participar no juramento de posse do atual Co-Principe de Andorra, Josep-Lluis Serrano Pentinat, que sucedeu a Joan-Enric Vives i Sicília também Bispos de La Seu d' Urgell ( Espanha), funções que, com o Presidente da República de França, Macron, fazem parte da Conselho na Constituição do Principado de Andorra. Não se tratou de uma simples cerimónia, mas uma verdadeira “entronização” de pompa e circunstância na velha tradição dos Condes de Foix, historicamente ligados à terra de Sant Ermengol.
Um Principado cioso das suas tradições, que reuniu conselheiros, cônsules, embaixadores e sacerdotes num dia de festa apoteoticamente marcado pela força e trajes festivos, de cariz medieval, em que a nobreza sobressaiu numa sessão solene iniciada pelo discurso do síndico representante eleito, polícroma, plural e multiforme.
Pode-se dizer uma ligação estreita entre o civil e o sagrado, que constitui, segundo o lema Virtus unita fortior (a virtude unida torna-se mais forte) o impulso de um pequeno país com uma economia extraordinária, encravado nos Pirineus entre a França e Espanha, onde trabalham ainda mais de 10.000 portugueses “os grandes construtores e impulsionadores do Principado” com os espanhóis.
O Arcebispo Serrano Pentinat, que fala cinco línguas, inclusivamente o português, núncio apostólico que esteve também em Moçambique e Brasil, no seu discurso, referindo-se à laicidade positiva disse: “Esta não suprime o facto religioso no espaço público, senão que o integra num marco institucional baseado no respeito e na neutralidade positiva. Este servidor entre vós é herdeiro e continuador de uma larga tradição, por um lado apostólica, a qual desde o séc. VI deu ao antigo condado de Urgell uma cadeia ininterrupta de bispos dedicados a anunciar o Evangelho e confirmar na fé”. As diferentes circunstâncias históricas levaram os Bispos de Urgell a tornarem-se senhores dos Vall de Andorra e mais tarde, os condes de Andorra a partilhar com os Condes de Foix, Co-senhores e Co-principes.
Seria muito curioso citar parágrafos da Constituição para um país minúsculo: 468 km2, cujo pico mais alto Coma Pedrosa tem 2.946 m de altitude, onde vivem cerca de 100.000 habitantes, dos quais 78% são estrangeiros, em fraterna e sadia convivência e fortes vínculos de fraternidade, tendo o Co-Príncipe apelado a uma “actividade económica ao serviço da dignidade e da pessoa humana”, sempre com o respeito e culto de uma terra comum propícia ao turismo e ski no Inverno.
No final da sessão solene dirigiu-se ao santuário - Basílica de Meritxell (a “Cova da Iria de Andorra”), onde em profundo silêncio de oração, invocou a protecção da Mãe de Deus, com todos os sacerdotes das sete paróquias de Andorra, o que se gravou no coração de todos.
Foi certamente um dia inolvidável para as gerações atuais, que, seguindo diretamente ao vivo ou pela televisão, tiveram uma lição de História e respeito de tradições cristãs, não muito comuns em nações que se dizem muito civilizadas e de pouco respeito pelos direitos humanos… ou pelo sagrado.