A pressa e o ruído estão a estourar completamente a nossa vida, rebentando o indispensável equilíbrio para a nossa sanidade e sobrevivência.
A certa altura, já não sabemos se estamos em atividade ou em contínua – e estéril – agitação. Nem percebemos que a hiperconexão detona as possibilidades de entrar em verdadeira – e fecunda – comunicação.
Os problemas emocionais disparam a um ritmo alucinante, numa espiral dificilmente controlável.
O «brain rot» (apodrecimento cerebral) já entrou no elenco das enfermidades mais perturbadoras do nosso tempo. Ela irrompe do uso excessivo das redes sociais e do consumo voluptuoso de conteúdos digitais.
O vício da tecnologia está a aterrar-nos no tempo que deveria ser de pausa e contemplação. Vivemos obsessivamente conectados, «mas cada vez mais desligados da natureza e uns dos outros» (Inês Cardoso).
A consequência imediata é a sensação de exaustão, a perda de concentração e a dificuldade em processar informações complexas. Acrescem os obstáculos à socialização e as múltiplas tipologias de ansiedade e depressão.
Em contraste com as multidões ululantes, que vociferam no universo digital, vai ecoando um clamor em prol da urgência de mais silêncio e até de mais solidão.
Alguma psiquiatria – valorizando a importância da «solitude» – tem vindo a prescrever «tempo para parar, sem telemóvel nem televisão, para organizar a mente».
O «tempo de sofá» – metáfora para designar esta terapia – apela para os efeitos curativos dos «momentos de introspeção e reflexão».
Estar sozinho não tem de ser um tempo «aborrecido e angustiante». Pode ser a oportunidade de nos encontrarmos connosco próprios. Não seremos, muitas vezes, os mais desconhecidos para nós mesmos?
Há uma reaprendizagem a fazer, pois pressionam-nos – a toda a hora – a olhar para fora e nunca para dentro.
Só que o excesso de exposição social pode levar a uma desregulação emocional. A maturidade emerge, quase sempre, do silêncio, âmbito onde «surgem a criatividade, a cura e o verdadeiro autoconhecimento».
Por paradoxal que pareça, é no silêncio que «nos reencontramos, que ganhamos ânimo e nos tornamos mais disponíveis para nós, para os outros e para a vida».
É por isso que a «terapia do sofá» pode ser insuficiente. Embora relaxante, enrola-nos – solipsisticamente – na nossa companhia. E será que seremos sempre a companhia ideal para nós mesmos?
A «terapia de joelhos» não será mais salutar? Ela abre-nos a Quem nos conhece melhor do que nós próprios. Ela leva-nos, afinal, a reencontrar Quem já está dentro de nós.
A comunhão recompõe-se – segundo Leão XIV – «acima de tudo sobre os nossos joelhos, na oração e num compromisso contínuo de conversão».
A «terapia de joelhos» pode ser tão preciosa como uma prescrição medicamentosa. Ela faz-nos perceber que, mesmo sós, nunca estamos sozinhos.
A espiritualidade alimenta a esperança, predispõe ao perdão, excita o altruísmo e inspira gestos de amor.
Afinal, Deus cura. E nem sequer é preciso ir ao Seu encontro. Basta descer até às profundezas do nosso coração.
É por isso que o melhor é fechar os olhos para que eles se (re)abram na profundidade onde Deus habita e a partir da qual nos liberta, nos salva e nos faz renascer.