Em finais de maio, último, uma notícia no JN prendeu a minha atenção. Falava de enormes filas de espera de pais a inscreverem os filhos nas colónias, viagens de ida e volta às praias e campos de férias promovidos por uma Autarquia Local nortenha. Tendo muitos deles ido de madrugada para os postos de inscrição no intuito de não comprometerem umas férias, em segurança, aos seus rebentos. Mesmo assim, muitos houve que ficaram de fora dos contingentes colocados à disposição.
Trata-se de um processo de férias infantojuvenil com início em 30 de junho e final a 29 de agosto, cujos custos variam entre os 55 e os 85 euros por semana. Valores que as famílias procuram honrar com algum esforço, sobretudo as de parcos rendimentos, a bem da sua prole. Beneficiando, ainda, de programas de atividades e entretenimento, bem como de alojamento, alimentação, refeições variadas e a horas.
Pois bem, foi durante a leitura de tal peça que ocorreu lembrar-me do maior período de férias letivas do meu tempo de menino e mocinho. O qual se iniciava pelo S. João e se estendia até ao final de setembro. Portanto, cerca de três meses livres dos respetivos afazeres escolares. Felizmente, que os meus progenitores não tinham a mesma preocupação com a ocupação do meu tempo livre, como têm os de agora. Pelo simples facto de eu pertencer a um grupo de escuteiros do CNE, na Paróquia de Merelim S. Pedro, onde nasci e vivi a minha infância e juventude.
Tendo sido graças a essa nobre instituição que eu e a malta do meu tempo tivemos a sorte de usufruir de um receituário de inolvidáveis tarefas preparadas pelo grupo, em cada época estival, de entre as quais a do campismo à beira-mar. Em local previamente escolhido e devidamente autorizado pelo proprietário, a quem era prometido deixarmos-lhe o espaço impecável. Ademais, os nossos pais viviam descansados por nos saberem bem entregues.
Assumo dizer que o final dos anos de 50 e a década de 60 foram para o clã escutista da freguesia tempos de verdadeira alegria e felicidade. Sem medo de intrusos da índole criminal dos atuais, nem temor pelo perigo de nos perdermos no meio do, até aí, desconhecido. Isto, porque nos sabíamos protegidos por adultos experientes, munidos de técnicas e preceitos colhidos nos manuais do fundador, Baden Powell.
Onde chegávamos, logo conquistávamos não só a simpatia de quem vivia nas redondezas do acampamento (gente ligada à pesca e às lides rurais), como a sua curiosidade sobre o nosso comportamento no dia-a-dia. Sendo rara a noite em que não apareciam para assistirem ao “Fogo do Conselho”: uma espécie de “cocktail” de historietas, humor, magia e cantigas. O que as divertia imenso. Tudo se fazia sob a orientação do nosso chefe assistente, o rev.º padre J. Alberto M. Fonseca. (também ele promotor de uma colónia de férias, instalada num prefabricado, junto à Praia das Marinhas, em Esposende, de que a juventude Merelinense muito beneficiou).
Já o tempo sobrante da pausa letiva era passado no “Campo d’Aviação” (ao pé das Caixas d’Água), onde brincávamos e jogávamos à bola, livres como passarinhos. Bullying? Não havia! Dás-me um sopapo, logo levas duas lapadas e amanhã, sem traumas, continuamos amigos. Depressão? Qual quê? Quando o calor apertava, refrescávamos as nossas ideias nas puras e cristalinas águas dos arroios e tanques das redondezas. Depois, tínhamos os estreitos caminhos da aldeia para as “corridas do pé descalço”, por nós organizadas.
No final de cada contenda, era certo assistirmos a uma sessão de cinema em casa do saudoso professor, António José Ribeiro. Onde, com a sua máquina de projetar, nos encantava com filmes, a preto e branco, do Charlot e do Bucha e Estica. Aí, era gargalhada pegada perante as peripécias desses génios da comédia. Só era chato, quando as velhinhas fitas se partiam. Tudo isto para dizer que, naquele tempo, com o pouco que havia, passávamos umas “férias em grande” – sem a escravidão dos écrans tecnológicos de hoje.