No início da passada semana, aquando do passeio do clero do arciprestado de Vila Verde, tive a oportunidade de visitar a Universidade de Coimbra, ficando a conhecer um pouco melhor a sua história e funcionamento, a sua riqueza patrimonial e arquitetónica.
Foi criada por D. Dinis, a 1 de março de 1290, quando assinou o documento Scientiae thesaurus mirabilis, confirmado pelo Papa Nicolau IV, a 9 de agosto desse mesmo ano. É, por isso, uma das universidades mais antigas da Europa1. Tendo nascido em Lisboa, a Universidade foi oscilando entre a capital do reino e a cidade do Mondego, onde se fixou em 1537, por determinação do rei D. João III.
A Universidade de Coimbra possui, na atualidade, mais de 30 000 alunos, divididos por oito faculdades que abrangem praticamente todas as áreas do saber: Letras, Direito, Medicina, Ciências e Tecnologia, Farmácia, Economia, Psicologia e Ciências da Educação, Ciências do Desporto e Educação Física. Goza de grande prestígio internacional, atrai muitos estudantes estrangeiros, sobretudo de países lusófonos, o que faz dela a mais cosmopolita universidade de Portugal.
Possui também diversos centros de investigação de excelência, em áreas como física, biotecnologia, saúde, história e ciências sociais. Participa em projetos de investigação e redes universitárias internacionais e está fortemente envolvida em inovação e empreendedorismo, com fortes ligações às empresas tecnológicas da região.
A vida universitária coimbrã é famosa pela praxe académica, pelas repúblicas (casas de estudantes com autogestão), pela Queima das Fitas (uma das maiores festas académicas da Europa) e pelo Fado de Coimbra (bem distinto do de Lisboa).
Além das faculdades, divididas por três polos, a Universidade de Coimbra conta ainda com dezoito museus, um Jardim Botânico e um Estádio Universitário. A sua riqueza patrimonial e arquitetónica são por demais evidentes no Pólo I, onde se situam a Reitoria e os Serviços Administrativos, a par da Faculdade de Direito e de Psicologia.
Neste conjunto arquitetónico, destacam-se o Paço das Escolas, a Porta Férrea, a Biblioteca Joanina, a Capela de S. Miguel, a Torre da Universidade e a Sala Grande dos Atos (Sala dos Capelos). Em 22 de junho de 2013, este conjunto foi classificado como Património Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). E foi esse que visitámos, com a ajuda do Professor Rebelo, docente da Faculdade de Letras, a quem muito agradecemos.
O Pátio das Escolas passou a chamar-se assim quando, em 1597, foi adquirido pela Universidade a Filipe I. Designado inicialmente Paço Real da Alcáçova2, foi Paço Real, desde D. Dinis e até ser adquirido pela Universidade.
A Porta Férrea foi a primeira obra posterior à aquisição do edifício. Data de 1634, tem como autor o arquiteto António Tavares e foi concebida como um arco triunfal de dupla face, em que estão representadas as antigas faculdades (Teologia, Medicina, Leis e Cânones) e são referidos os principais nomes da afirmação da Universidade (D. Dinis e D. João III), encimados pela figura de Minerva, deusa romana da sabedoria.
A Torre da Universidade foi edificada entre 1728 e 1733 e é obra do arquiteto italiano António Cannevari. O relógio da torre tinha um papel importante no quotidiano universitário, associado aos sinais sonoros emitidos pelos sinos, quatro no total, dos quais o mais conhecido ocupa a face voltada para o rio, vulgarmente denominado cabra.
A Sala Grande dos Atos ou Sala dos Capelos3 é o lugar onde se realizam as mais importantes cerimónias da vida académica. Era a antiga Sala do Trono do Paço Real da Alcáçova e foi aqui que, em 1383, se reuniram as Cortes para aclamar D. João, Mestre de Avis, como Rei de Portugal.
A Capela de S. Miguel data do século XVI e foi patrocinada por D. Manuel I, cujo estilo decorativo está patente no portal manuelino lateral, nos janelões da nave central e no arco cruzeiro. O retábulo é tido como uma obra prima do maneirismo português e o órgão, em estilo barroco, foi construído em 1733, por Frei Manuel Gomes.
A Biblioteca Joanina, inicialmente chamada “Casa da Livraria”, é um expoente do barroco português e uma das mais belas bibliotecas do mundo4. Foi construída entre 1717 e 1728, sob o patrocínio de D. João V (1707-1750), cujo retrato domina a última sala. As suas estantes estão forradas a folha de ouro e decoradas com motivos chineses. Alberga um acervo de 55 000 livros, cuidados durante o dia por funcionários e, durante a noite, por morcegos que os protegem dos insetos (em especial, da traça). Aí se acede, a partir do Pátio das Escolas, através de um portal nobre de estilo barroco, ladeado por duas colunas jónicas e encimado por um magnífico escudo real.
Com uma tal riqueza patrimonial e arquitetónica, o polo I da Universidade de Coimbra merece uma visita atenta e demorada, neste tempo de verão e de férias.
1 Das mais conhecidas universidades europeias, as mais antigas são Bolonha (1088), Oxford (1096), Paris (1170), Cambridge (1209) e Salamanca (1218).
2 Palavra de origem árabe que significa “fortaleza”, “cidadela” ou “castelo fortificado”.
3 Nome dado à capa ornamental usada pelos Doutores da Universidade em ocasiões solenes.
4 Em 2013, o jornal britânico The Telegraph considerou-a “a mais espetacular do mundo”.