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Casamento – valor, valores e custos

 

 



 

Se atendermos à evolução (mudança, alteração, adaptação, conveniência, pensamento) cultural de muitos aspetos da nossa vida coletiva, encontraremos isso e muito mais na vivência do ‘casamento’, dito no significado mais amplo, sem o reduzir à sua expressão religiosa. ‘Grosso modo’ todos fomos mudando quanto ao conceito, mais no sentido prático do que nas referências teóricas... Mesmo na perspetiva dos gastos com o ato temos verificado incidências, diga-se, mais materialistas (gastos) do que na envolvência das pessoas na sua radicalidade… que certos platónicos/utópicos almejam de felicidade.



 

1. Para alguns – numa espécie de profetas da desgraça – tudo quanto se passa naquilo que está relacionado com o casamento é grave e nefasto. Para outros a quebra do número de casamentos como que revela um perigo para a sobrevivência da sociedade, pelo menos como a entendem, aceitam ou ainda vivem. Boa parte articula o casamento com o conceito de família, parecendo que esta só se compreende com aquele. Por isso, constituir família sem casamento torna-se-lhes de difícil aceitação ou mesmo tolerância.



 

2. Se entrarmos no campo religioso, não se afigura de boa reputação que não haja, na brevidade possível, a celebração de um ritual religioso. Só que, também neste campo específico, foi-se esmorecendo o esclarecimento entre fé e dimensão sacramental, podendo dar-se o caso de estarmos a sacramentar quem não tem fé mínima e a vincular com um compromisso religioso quem não faz minimamente o que a Igreja quer fazer, isto é, de celebrar um sacramento entre um homem e uma mulher na fé cristã. Foram sendo introduzidas – progressivas, mas nunca como condições exigidas – oportunidades pastorais de preparação próxima do sacramento – os ditos ‘centro de preparação para o matrimónio’ – acolhendo dezenas e dezenas de casais, uma boa parte a viverem já em comum e, em muitos casos, acompanhados pelos filhos. Será que estes recursos têm contribuído, de verdade, para a melhoria da qualidade dos ‘casamentos na igreja’? Sim esta expressão condiciona, à partida, a capacidade de melhor preparação próxima do matrimónio, pois, tendo este efeitos civis, quem preside ao ato religioso não passa de uma espécie de amanuense que tem por telónio o altar...



 

3. Não deixa de ser mais um passo para a ridicularização – agora que o pretenso humor se passeia impune e se pode dizer e fazer tudo o que lhe apetece – que tenhamos (mais do que uma vez) programas televisivos que ostentam a designação de ‘casamento à primeira vista’ ou que façam de um ato, de per si, sério e comprometedor uma caricatura daqueles e para com aqueles que o queiram fazer de forma verdadeira. Começar as coisas pelo fim para ir à descoberta das razões é (ou pode ser) brincar com as pessoas, os seus sentimentos e as razões de vida mais profundas... Ou o resto é para entreter ou cativar audiências!



 

4. Situemos a questão ao nível dos gastos, pois, em certos países há dados que podem ser interessantes para tentarmos interpretar as pretensões dos ‘nossos’ casamentos. Para 45% dos franceses, um orçamento razoável para um casamento está entre os cinco e os dez mil euros, enquanto 29% consideram normal gastar de dez a vinte mil euros no evento. Pessoas com renda mais baixa preferem casamentos com menos de cinco mil euros, enquanto famílias ricas tendem a considerar orçamentos mais altos. 62% dos entrevistados acreditam que não devem se endividar para financiar a cerimónia, preferindo recorrer às economias (63%) ou contar com o apoio da família (33%). No entanto, a ajuda de entes queridos continua a ser mais comum entre as gerações mais velhas. Além do custo do casamento, 37% dos entrevistados identificaram o risco de divórcio como a principal fonte de hesitação, seguido da perspetiva de despesas (30%), pressão social ou familiar (19%), compromisso (12%) e razões fiscais ou administrativas (9%). Esses obstáculos explicam, em parte, o declínio da popularidade do casamento entre os mais jovens… na França. E por cá não será diferente!



 

5. Este tema do casamento ainda é uma questão relevante, problema será quando deixar de ser inquietação...

António Sílvio Couto

António Sílvio Couto

7 julho 2025