twitter

Braga, a culta, pode ser?

 

 

Gosto, sempre adorei estar numa cidade que me oferecesse não só boa mesa, boa cama, que me obsequiasse de boas-vindas com gente simpática, que tivesse uma boa avenida toda pintada e abonecada com pormenores, mas que me enchesse também a minha alma, esta sempre pedindo mais, tanto mais que se tornou insaciável. A Braga antiga nunca morrerá, porque não desaparece assim, do pé para a mão, qualquer rasto, isto é, quem tem um passado, e muito menos se nos associarmos a ele. A Braga de cultura é de tal requinte que, além de encher a alma bairrista, serve de berloque no orgulho e na vaidade de ser bracarense. Braga soube estar ligada à sua Universidade e Institutos e, com eles, ou por efeito deles, chamou a si nomes sonantes das artes e das letras. Já não se vem a Braga só para comer bacalhau à Narcisa, ou ver Braga por um canudo. Este atual presidente do município mostrou, desde o início da sua atuação autárquica, uma tendência para a cultura. Quando Ricardo Rio diz, “Braga vai dar continuidade à aposta na cultura”, não só consolida o seu pensamento inicial como se mostra amante dessa mesma cultura: é como escancarar a confissão para através dela vermos uma força que só a convicção pessoal e muito profunda determina e sustenta. Mas é por aí que o futuro deve continuar. Ricardo Rio está de saída, mas deixa a quem lhe suceder um caminho certo e um objetivo a sustentar. Estou convencido que muita gente está à espera que o caminho, por ele aberto, se torne o trilho que o leve ao lugar que Braga merece. Este património não pode ser despedaçado pela indiferença ou ignorância de alguns. Há nesse património algo de substância de superação material que criou uma dinâmica que não pode deixar de ser desígnio. A Grécia antiga e até a de hoje é conhecida pela sua cultura filosófica de Sócrates, Platão e Aristóteles e não apenas pelo Partenón; assim Roma com Miguel Ângelo, do mesmo jeito em Viena com Strauss. São imorredoiras estas localidades não porque modificaram esta ou aquela estrutura física, isso faz o empreiteiro, mas porque tornaram imaterial algo que se coloca muito acima da nova cara pintada de praça, ou viela que se abriu em avenida. Braga deve ser reconhecida como uma capital culta e não apenas como capital da cultura. Para isso é preciso que as pessoas cultas de Braga se transformem em pessoas de cultura. Edite quem escreve, esculpam os escultores, represente quem sabe representar ou pinte quem sabe pintar. Mas não se transformem em doces conventuais; só para alguns é pouco. A juventude não se interessa, mas quanto menos lhe dermos menos eles “comerão”... É preciso habituar o povo à cultura. Tudo isto se torna necessário, mas presentemente parece que tudo está preso por velhos suspensórios. A nostalgia é um pobre revivalismo. Ondina Braga, onde está a tua estátua que a não vejo? João Penha quantos ensaios literários tem a tua obra que os não leio?

Paulo Fafe

Paulo Fafe

7 julho 2025