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Uma experiência “salutar”

 


 

 


 

Estou na sala de recepção das consultas externas do Hospital Público de Braga. Piso três. Muitos pacientes, talvez, a maioria já bem entrados na vida aguardam a sua vez numa sala espaçosa e com condições suficientes para proporcionar algum “bem-estar”. O movimento dos pacientes é notório. Uns entrando e outros saindo, num bom ritmo e com toda a naturalidade, apesar das maleitas que os afligem. Na ampla sala há lugares sentados para todos. Ao fundo, na parede, exposto um painel com três recomendações. Destaco a primeira: “Faça silêncio”. Contudo, uns ruídos murmurados marcam a sonoridade da sala. Não incomodam, mas melhor seria se todos seguissem a regra número um que bem legível está. Ou seja, silêncio para quem trabalha e silêncio para quem espera. Há assistentes operacionais, atentas, prontas e diligentes, a prestar ajuda a quem precisa. Ninguém as chama para ajudar, mas esses profissionais apercebem-se da situação. E a rotina marca a cadência das ajudas.


 

Consulta - Com marcação para as 10 horas e 20 minutos, entrei no gabinete médico 10 minutos depois. Um bom sinal! Não esperava ser atendido tão depressa. Um sinal de eficiência e também de respeito pelo utente. Assim é que deveria ser em todo o país e em todas as especialidades médicas: eficiência e respeito. Se assim fosse, as listas de espera não afligiam ninguém.

O médico, um jovem médico, atencioso e bem ciente da sua “missão” chama à porta. Entro com um bom dia e recebo um sorriso. Inteira-se o clínico, de imediato, do problema de saúde com uma “conversa” agradável. O diagnóstico está feito e o médico vê que não há necessidade de intervenção cirúrgica a curto prazo. Fico na lista de espera mais um ano. Tudo acordado numa “parceria” consentida. Vou resolvendo o problema com terapias alternativas. Até ser possível. A despedida, entretanto, é marcada com sorrisos e com votos de boa saúde e um “até ao ano”.


 

A cidade de Braga tem um óptimo hospital público. Com médicos zelosos e cumpridores tudo seria muito melhor e menos penoso para qualquer paciente. Os médicos têm que perceber que são elos importantíssimos na vida das pessoas. E perceber também que o dinheiro não é tudo na vida. Ajuda e muito, mas não é tudo. A dignidade própria da profissão, (Juramento de Hipócrates *), o respeito por quem sofre e o sentido de “missão” (responsabilidade) valem muito mais do que uma carteira recheada. Tenho ouvido também falar que o pessoal da enfermagem que trabalha no hospital é composto por óptimos profissionais. O mesmo acontece com o pessoal auxiliar. São eles os primeiros elos da linha de atendimento para atenuar o sofrimento e dar um pouco de esperança e de conforto a quem está fragilizado.

Não sou utente habitual do SNS. A ADSE permite outra abordagem na Saúde. Esta experiência, contudo, foi “salutar” e fez-me estar em contacto com a realidade de quem presta serviço público e humanitário e de quem sofre as agruras de uma enfermidade. Por vezes, muito dolorosa e irreversível. Por isso, compreensão e respeito são pontos básicos para os profissionais da Saúde. Ainda vão acontecendo casos tristes de violência gratuita.


 

*Juramento de Hipócrates (resumido) - (médico) - “Prometo solenemente consagrar a minha vida ao serviço da humanidade. Darei aos meus mestres o respeito e o reconhecimento que lhes são devidos. Exercerei a minha arte com consciência e dignidade. A Saúde do meu doente será a minha primeira preocupação”. 


 

Se se cumprisse na íntegra o Juramento de Hipócrates (criado na Grécia no séc. V a.C.) a Saúde nacional estaria bem melhor. Os médicos juram, é verdade. E cumprir?! Como aquele médico dermatologista (um rapaz novo) que num sábado facturou 51 mil euros. Se trabalhasse o dia todo, 24 horas, ganharia por hora 2125 euros. Isto é obra?! Não será, antes, uma indignidade?!

Armindo Oliveira

Armindo Oliveira

6 julho 2025