twitter

Casa do Brinquedo e da Brincadeira em Vila Verde

Quando as crianças brincam / E eu as oiço brincar, / Qualquer coisa em minha alma / Começa a se alegrar.” Foi com Fernando Pessoa que eu e as minhas filhas começamos a visita à Casa do Brinquedo e da Brincadeira, em Vila Verde. 

O museu está aberto ao público desde 2015, sob a direção da Associação Domingos Oliveira Lopes (ADOL), presidida pelo Professor Nídio Silva, doutorado em Estudos da Criança pela Universidade do Minho. Tem sido ele o grande impulsionador desta iniciativa que nos evoca a evolução dos brinquedos e das brincadeiras ao longo do século passado até aos nossos dias. A sede escolhida para o museu foi a antiga escola da freguesia de Barbudo. Na fachada principal do edifício deparámo-nos com um medalhão em formato circular a ladear a entrada, com a figura do ilustre vilaverdense, Dr. Domingos Lopes, médico de referência do nosso concelho, patrono da ADOL, associação que gere este museu sediado na mesma escola onde o Dr. Domingos Lopes aprendeu as primeiras letras e, por certo, teve muitos momentos de brincadeira na sua infância.

A Casa do Brinquedo e da Brincadeira é uma verdadeira viagem no tempo que permite aos mais velhos reviverem a infância e aos mais novos conhecerem a realidade do passado, num tempo em que os ecrãs, os tablets e os telemóveis não faziam concorrência aos brinquedos e às brincadeiras na busca pela atenção das crianças. Que imaginação tinham os nossos avós quando aproveitavam os materiais da natureza para matérias-primas na construção dos seus próprios brinquedos! E quanta arte saía das mãos dos artesãos que, em madeira e metal, construíam, um a um, os brinquedos que se seguiram na evolução dos tempos. Continuando a visita pelo museu, chegamos aos brinquedos mais industriais, produzidos em série, com recurso a materiais mais sofisticados, como o plástico. Aí sim, revivi a minha infância e até encontrei alguns brinquedos que fizeram parte do meu tempo. Este é, de facto, um museu para todas as gerações! As minhas filhas brincaram com uma bola de trapos que, já não sendo do meu tempo, é algo que me lembro bem dos meus pais e avós falarem. E também saltaram à corda, andaram num baloiço tradicional, apoiado em traves de madeira e ladeado por duas árvores em vez de vigas de ferro e até vimos como se lança um peão, aquele brinquedo que tanto sucesso teve outrora. 

Outro dos espaços com muito interesse na Casa do Brinquedo e da Brincadeira em Vila Verde é a recriação da sala de aula do tempo dos nossos pais e avós. Destacam-se o Crucifixo a encimar o quadro de ardósia, o ábaco para os cálculos, as lousas, a dolorosa palmatória, as carteiras antigas em madeira, com tampo inclinado típicas do mobiliário escolar de outras épocas e o mapa de Portugal Continental, Insular e Ultramarino onde aproveitei para mostrar às minhas filhas o território de Moçambique, onde viveram os meus avós e nasceu a minha mãe e de onde, também, é natural a senhora Alda, que nos recebeu e guiou, simpaticamente, na visita ao museu. 

Num tempo em que as nossas crianças perante o aborrecimento de não terem nada para fazer tendem a refugiar-se nos ecrãs do tablet ou do telemóvel, numa espécie de salvação para as horas de tédio, faz mesmo todo o sentido visitarmos a Casa do Brinquedo em Vila Verde. Brincar sempre foi, e continua a ser, saudável e um dos grandes desafios da educação nos tempos de hoje é estimularmos a criatividade nas nossas crianças e o sentido da brincadeira, impedindo que o telemóvel seja o seu maior e mais importante brinquedo.

Luís Sousa

Luís Sousa

3 julho 2025