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Perturbação do Uso do Álcool: Um desafio de Saúde Mental em crescimento

A Perturbação do Uso do Álcool (PUA), também conhecida como dependência alcoólica ou alcoolismo, é uma condição médica caracterizada por um padrão abusivo de consumo de álcool, capaz de levar a consequências clinicamente significativas, como prejuízo no funcionamento social, ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. Segundo o Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (DSM-5), a PUA envolve sintomas como perda de controle sobre o consumo, craving (desejo intenso de beber), tolerância e persistência no uso, apesar dos prejuízos.

Em Portugal, esta perturbação tem vindo a agravar-se nos últimos anos. Estudos recentes indicam que a taxa de consumidores abusivos ou dependentes de álcool mais do que triplicou desde 2017, atingindo cerca de 259 mil pessoas em 2022. Nos jovens, estima-se que 51% da população com 18 anos tenha consumido álcool de forma excessiva nos últimos 12 meses, com 36% indicando embriaguez severa.

A PUA compromete significativamente a saúde física e mental dos indivíduos. O consumo excessivo de álcool está associado a doenças hepáticas, cardiovasculares e neurológicas, além de aumentar o risco de acidentes e mortes prematuras. No plano mental, pode conduzir à depressão, ansiedade, baixa autoestima e outros transtornos, afetando a funcionalidade diária.

O rendimento escolar e profissional também tende a ser afetado, muitas vezes de forma progressiva. Problemas como dificuldades de concentração, lapsos de memória e maior absentismo são frequentes e podem comprometer o desempenho e a estabilidade em contextos educativos e laborais.

O impacto familiar da PUA na vida familiar também pode ser profundo. Estima-se que para cada dependente, entre cinco a seis familiares sejam afetados diretamente. As famílias enfrentam conflitos constantes, sentimentos de frustração e, muitas vezes, violência doméstica. Estudos também demonstram que crianças de pais com PUA têm maior probabilidade de desenvolver distúrbios emocionais e comportamentais, dificuldades escolares e traumas duradouros, refletindo-se em padrões disfuncionais na idade adulta.

Do ponto de vista educativo/ preventivo, é fundamental que a literacia em saúde mental inclua desde cedo o conhecimento sobre os riscos do consumo do álcool. Integrar estas temáticas nos currículos escolares e nas campanhas de saúde pública contribui para uma maior consciência crítica dos jovens e promove escolhas informadas, capazes de prevenir consumos problemáticos.

Já que no que diz respeito ao tratamento da PUA, este exige uma abordagem multidisciplinar, combinando intervenção médica e farmacológica e intervenções psicoterapêuticas, como o envolvimento em grupos de apoio (por exemplo, os Alcoólicos Anónimos). 

Enquanto sociedade, é urgente reconhecer a PUA como uma condição de saúde e quebrar o estigma que ainda recai sobre a dependência alcoólica. A PUA não é sinal de fraqueza, mas sim uma condição clínica que exige compreensão, empatia e acesso facilitado a cuidados adequados. A sensibilização da comunidade é um passo decisivo para reduzir o sofrimento silencioso de milhares de pessoas e famílias e promover uma cultura de saúde, inclusão e responsabilidade coletiva.

Cristina Silva

Cristina Silva

2 julho 2025