Encontrei, por estes dias, uma certa publicidade a fatiotas de ‘diabinhos’, com preços variáveis e sugerindo adereços diversos. Os preços e as circunstâncias estariam enquadrados no contexto de alguma festa infantil, mas será um tanto questionável que surja esta publicitação numa época em que, nas procissões religiosas (e não só), aparecem figurados de anjinhos alusivos aos santos e/ou à veneração de Nossa Senhora.
1. Porque a publicidade influencia e é influenciada pelo consumo, será, por isso, de questionar a apresentação de imagens alusivas ao ‘diabo’ e com recurso sugestivo à aquisição de tais fatos. Não está em causa o preço, mas qual o significado desta publicidade agora, tendo em conta o enquadramento social, religioso ou espiritual do objeto apresentado. Será isto uma provocação para além de uma mera coincidência? Onde está o bom senso da exibição publicitária para além dos arquétipos de certos momentos religiosos em presença? Será tão inocente assim o recurso ao infantil para difundir a presença do ‘diabo’ com normalidade?
2. Parece que o culto ao ‘diabo’ saiu da penumbra do exotérico e vai lançando tentáculos mais visíveis e que se apresentam muito mais do que infantis. Por vezes ‘brinca-se’ com assuntos sérios ou tenta-se banalizar questões que são muito mais do que assuntos transversais. Com efeito, dado que o culto a Deus parece que foi perdendo força e expressão corremos o risco de trazer para o espaço público o tema do ‘diabo’ e as suas ramificações. Certamente já reparamos nos gestos quase diabólicos de muitos dos participantes nos festivais de música no verão. O enfeite em forma de chifre com os dedos não passa desapercebido. O conteúdo de tantas músicas e mesmo das danças parecem prestar razoavelmente culto ao demo.
Segundo dados credíveis o satanismo está em progressão, tanto na América como na Europa. Nos Estados Unidos, o satanismo baseia-se geralmente na ideia de que satanás pode dar-nos poder ou prazer e por isso é adorado. De acordo com estudos, por exemplo em Itália existem quatro tipos de satanistas: racionalistas, ocultistas, toxicodependentes e luciferianos.
3. Neste contexto que dizer da proliferação de tatuagens em tantas pessoas, onde a figura do ‘diabo’ e quejandos aparece de forma recorrente? Como não perceber que os sinais da presença do mal são hoje mais explícitos do que noutros tempos? Dá a impressão que não se fala dele, mas que ele está mais presente do nunca nas atitudes, nos gestos, nas palavras e, sobretudo, no comportamento de pessoas e de instituições, na legislação (de forma algo capciosa e subtil) e no âmbito público mais ostensivo…
4. Se reparamos, na oração do jubileu de 2025, faz-se alusão concreta às forças do mal e da sua atuação neste mundo, quando se diz: «quando vencidas as potências do mal», suplicando que isso seja uma manifestação do poder de Deus: «a tua graça nos transforme em cultivadores diligentes das sementes do Evangelho, que fermentem a humanidade e o cosmos, na espera confiante dos novos céus e da nova terra». Efetivamente precisamos de consciencializar o que há de presença das ‘potências do mal’ ou seremos como que engolidos pelos enganos e camuflados engodos do mal em nós e à nossa volta. Segundo alguns mais despertos sobre estas questões, não falar do mal – chame-se-lhe diabo, satanás ou demónio – é fazer o jogo dele, pois, nos intervalos, atua sem disso nos darmos conta, conquistando os seus sequazes pela ignorância, o adormecimento e tantas vezes a manipulação.
5. «Ao pedirmos para sermos libertados do Maligno, pedimos igualmente para sermos livres de todos os males, presentes, passados e futuros, dos quais ele é autor ou instigador. Nesta última petição, a Igreja leva à presença do Pai toda a desolação do mundo. Com a libertação dos males que pesam sobre a humanidade, a Igreja implora o dom precioso da paz e a graça da espera perseverante do regresso de Cristo. Orando assim, antecipa na humildade da fé a recapitulação de todos e de tudo, n’Aquele que «tem as chaves da morte e da morada dos mortos» (Ap 1, 18), «Aquele que é, que era e que há de vir, o Todo-Poderoso» (Ap 1, 8)» (Catecismo da Igreja Católica, n.º 2854).