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Ser e estar na Europa com Órban e Fico

 

 

Victor Órban e Robert Fico, para além de liderarem os respetivos países – Hungria e Eslováquia -– têm em comum o facto de serem populistas, nacionalistas, próximos da Rússia e violadores constantes do primado do Direito, procurando, de forma sistemática, perseguir e discriminar, evocando e manipulando, a seu belo prazer, os fundamentos da igreja católica, para perseguir as respetivas comunidades LGBTQ+. Ontem, o líder húngaro, foi confrontado com a realidade de uma manifestação, apesar de proibida, que, em Budapeste, reuniu dezenas de milhar de membros desta comunidade, quer húngaros, quer cidadãos de outras nacionalidades, entre os quais dezenas de eurodeputados, que sentem o perigo de verem violados princípios fundamentais da Liberdade de Ser e Estar numa Europa livre. Órban, que alguns primeiros-ministros europeus recordam, constantemente, o seu posicionamento no passado aberto e progressista, mudou de opinião percebeu que, para conquistar o poder, sobretudo no interior da Hungria rural, conservadora, pouco letrada, pobre e católica, precisava de radicalizar o discurso, escolhendo a imigração e as minorias como alvo da radicalização do seu discurso. Robert Fico fez o mesmo. Estávamos em 2021. As palavras do líder eslovaco para justificar a investida contra aquela comunidade podiam ser de Órban, ao reduzir os direitos ao casamento assente “nas tradições, na herança cultural e espiritual dos antepassados eslovacos”, no que apelidou ser “uma barreira constitucional contra o progressismo” para restaurar o “bom senso”. A este tipo de discursos respondeu o Papa Francisco, no Encontro Mundial da Juventude em Portugal, ao afirmar querer uma igreja “para todos, todos, todos” e já antes, numa entrevista à norte americana CBS ao definir o que era para si um conservador, face às críticas da ala conservadora da igreja que o tinha criticado quanto ao seu posicionamento relativamente à comunidade homossexual: "Conservador é aquele que se apega a algo e não quer ver além: é uma atitude suicida, porque uma coisa é levar em conta a tradição, considerar as situações do passado, outra é se fechar numa caixa dogmática". O que está em causa, não é o que que cada um pensa, o que cada um faz, mas o direito, desde logo, de o Estado, não pôr em causa, precisamente, direitos fundamentais seja de quem for. Durante os 48 anos de Estado Novo, as comunidades de etnia cigana e homossexual foram perseguidas, presas e alguns dos seus membros mais ativos foram mortos ou impedidos de terem assistência hospitalar. Nesse período, Hitler matou milhares de homossexuais em toda a Europa, sobretudo a leste. Órban, que no próximo ano enfrenta eleições legislativas, evoca os direitos das crianças, para atropelar direitos universais, confundindo alhos com bugalhos. A presidente da Comissão Europeia, que expressou o seu apoio à comunidade húngara, não foi para além das palavras, uma sina que, infelizmente, tem sido a marca de Úrsula von der Leyen sempre em marcha lenta e a correr atrás dos prejuízos. Com uma liderança assim, a Europa não precisa de procurar inimigos fora de portas. Tem que chegue em Bruxelas.

Paulo Sousa

Paulo Sousa

29 junho 2025