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Treinador… sempre na corda bamba

Este último fim de semana a Associação Nacional de Treinadores de Voleibol realizou o seu encontro anual de treinadores desta modalidade. Casa cheia. Um fim de semana intenso de formação e convívio que ajuda a alimentar o sonho de tantos que querem abraçar esta “profissão”, diria mais, “missão”, em assumir o gosto pelo treino, pelo desenvolvimento humano e desportivo. Um trabalho extraordinário de um grupo apaixonado em prol da modalidade.

Ser treinador de uma modalidade, em Portugal, é, muitas vezes, uma atividade de grande risco e, genericamente, mal remunerada, com parcas condições de trabalho, com uma taxa de esforço elevada, e mesmo assim a paixão faz criar a motivação para continuar a aprender, para se formar, para saber mais…para poder agir melhor. 

Na verdade, no desporto, a avaliação do treinador é frequentemente reduzida à frieza dos resultados. Somente as vitórias funcionam como o garante para a permanência no cargo, enquanto os resultados menos positivos tendem a eclipsar qualquer outro mérito ou competência que o treinador apresente. Um bom treinador não é apenas um gestor de resultados. É fundamentalmente um líder, um comunicador e, em muitos contextos, uma figura que brilha e faz brilhar, com a prestação dos atletas/equipas. Claro que o perfil engloba competências técnicas, mas essencialmente humanas: a inteligência emocional, capacidade de condução de grupos/atletas, a ética, visão pedagógica, entre muitas outras. Estas características são tantas vezes invisíveis aos olhos dos adeptos e até das direções dos clubes, mas podem ser decisivas para o desenvolvimento de atletas, especialmente em contextos da formação ou projetos a médio e a longo prazo. Às vezes, muito para além das competências que o treinador apresenta, eventualmente será o treinador o último culpado da ausência dos resultados. A pressão dos resultados, induz os clubes e os seus dirigentes a vaguear de experiência em experiência, sem saberem qual o rumo que querem seguir. 

Esta dicotomia (resultados/perfil do treinador) torna-se particularmente evidente quando se assiste à substituição de treinadores que, apesar de não obterem resultados expressivos num curto espaço de tempo, demonstram coerência metodológica, estabilidade emocional, empatia com os atletas e uma visão clara para o futuro, e mesmo assim, são sujeitos a despedimento. 

Na realidade, existem treinadores que, mesmo apresentando números positivos, evidenciam práticas autoritárias, péssima capacidade de gestão emocional ou modelos de liderança tóxicos e esses são os “bons”. Neste cenário, impõe-se uma reflexão sobre o tipo de desporto que se pretende promover. 

Será sensato reconhecer que o perfil de um bom treinador vai muito para além do lugar na classificação? Idealmente, a avaliação de um treinador deveria equilibrar os dois lados: reconhecer a importância dos resultados, mas também valorizar o modo como são alcançados (processo). Na minha opinião, um percurso desportivo assente na entrega, na coerência e na ética tem um impacto mais duradouro do que qualquer medalha…

Carlos Dias

Carlos Dias

27 junho 2025