twitter

A vida de treinador

O artigo de hoje centra a suas atenções na forma como vive um treinador, cuja carreira está em permanente avaliação e onde todos opinam, de modo mais ou menos certificado. Havia um treinador italiano, Carlo Anceloti, que dizia que “a mala de um treinador tem de estar sempre pronta”, numa alusão à pressa com que ele é, inúmeras vezes, despedido ou à forma como o desemprego pode dar lugar ao cargo de treinador no ativo, de um momento para o outro. Este pensamento foi corroborado por muitos outros técnicos e colocado em prática por quase todos. 

A avaliação da carreira de um treinador em qualquer clube é feita, de forma esmagadora, pelos resultados que a equipa que ele lidera consegue em campo. Pouco importa, na maioria das vezes, o processo que se trabalha, ou se a bola que bateu no ferro foi um mero azar ou, ainda, se o golo que ditou uma derrota foi um produto aleatório do acaso. Os líderes dos clubes são, geralmente, muito impacientes e as pressões vindas dos adeptos aceleram e precipitam muitas decisões, tantas vezes impensadas. Se esta verdade era notória no passado, através das reações dos adeptos durante ou no fim de um jogo, ou mesmo em posteriores conversas de café, o surgimento das redes sociais proporcionou um mundo sem limites na crítica, tantas vezes gratuita, que as pessoas fazem em público, onde as fronteiras são inexistentes.

Atualmente, graças ao acesso fácil à internet, muitas vezes de modo camuflado através de um nickname, a vida de um treinador passou de periclitante para a corda bamba, uma vez que qualquer pessoa avalia publicamente, quase em permanência, o desempenho técnico do responsável da equipa que apoia. O futebol é mais emoção do que razão e assim deverá ser, sob pena de o pensamento contrário levar à sua indesejada morte prematura. Contudo, a tal emoção deu lugar a um despejar de frustrações da vida privada, passando para o lado da irracionalidade. 

O SC Braga trocou de treinador, de forma aparentemente tranquila. Carlos Carvalhal veio na época anterior emendar um erro de casting com que ela se iniciou e chegou a fazer sonhar os adeptos com o pódio, graças a uma segunda volta que parecia, até quatro jornadas do fim, ser de claro candidato ao título. Apetecia perguntar “por onde andavas SC Braga?”. Porém, as derradeiras quatro jornadas borraram a pintura que parecia, até aí, digna de figurar nas melhores exposições. Os Gverreiros do Minho sucumbiram na parte final, o que se traduziu em mais um quarto lugar alcançado, algo que atualmente sabe a pouco em Braga. Carlos Carvalhal chegava ao fim de mais um serviço prestado ao seu clube de coração.

Rei morto, rei posto e a Braga chega agora o espanhol Carlos Vicens, cujo nome será, por certo, pronunciado de variadas formas pelos adeptos. A chegada do novo treinador, com um invulgar contrato de três épocas de duração, representa a vinda novos sonhos na Legião do Minho, estando no horizonte, ainda que eventualmente distante, o maior de todos de ver o SC Braga campeão nacional. O técnico espanhol, que trabalhou nos tempos mais recentes com Pep Guardiola, traz um manancial de ilusões que promete vender, mas é bom que nunca esqueça a forma como um treinador deve ter a sua mala, quando os resultados não forem os melhores. Espero que haja a paciência necessária, que escasseia tantas vezes.


 

António Costa

António Costa

26 junho 2025