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Os desfiles militares

 

 

A Rússia, os Estados Unidos, a China ou a Coreia de Norte todos se babam perante o desfilar de seus carros de combate, as máquinas assassinas destas potências. O orgulho que se estampa no rosto dos seus presidentes, contrasta certamente com o nosso sentimento de repúdio de pacifista. Como podem orgulhar-se aqueles que matam? O oposto seria o mais humano. A parada militar é a ostentação exibicionista perante o valor da vida humana. A alegria deveria transparecer na cara dos que, em vez de matar, lutassem para salvar os que de fármacos precisam. Cada desfile que observo é, para mim, uma marcha atrás em todo o humanismo que me norteia. Não rasgues o quadro belo da existência que é o homem. Este mesmo a que pertences. É triste verificar que o homo é, entre os outros animais, o maior predador: mata sem necessidade de se alimentar. E se em vez de carros de combate tivéssemos um desfile de aparelhos auxiliares de diagnóstico? E se em vez de gastarem milhares de milhões em tiros mortais, gastassem apenas alguns milhões e nunca milhares de milhões, em mais investigação de fármacos; e se em vez de foguetões que matam a quilómetros de distância, ou drones que bombardeiam a metros dos alvos, tivéssemos mais aviões de combate a incêndios, mais bombeiros para nos salvaguardar deste mal que todos os anos nos flagelam a alma e arrasam a propriedade? Em vez de bomba da morte, hospitais dirigidos à vida! Eu sei que estas dicotomias são tão velhas como os anseios. Mas nunca será de mais espremer a ferida; deixá-los em paz é colaboração passiva; quanto menos gastos bélicos, mais próximos estaríamos de ajudar o próximo. Teríamos tanta gente a assistir a um desfile destes meios, como se fosse um exibicionismo militar? Não sei, porque a alma humana parece que ainda não se saciou com a luta dos gladiadores, ou com as touradas, ou com tiros aos pombos; parece querer mais sangue de inocentes porque, no seu interior, ainda está cheio de primitivismo existencial. Para que servem estes desfiles militares? Para intimidar quem? Que medos se procuram exorcizar com este desplante de poderio bélico? Talvez haja mais medo nos que mandam desfilar do que quem olha por simples curiosidade o espetáculo da morte. Será que os poderosos são tão primitivos que não são capazes de superar seus instintos animais? Fica a dúvida a bailar como nuvem negra que ameaça chover.



 

Paulo Fafe

Paulo Fafe

23 junho 2025