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Todos não seremos demais

Vivemos tempos de interrogações e de presságios; e a primeira e angustiante interrogação é: com a volta que o regime político está a dar onde iremos parar? E o primeiro presságio é: podemos chegar bem perto em termos de liberdades, garantias e pendor socioeconómico, com o rumo que a política está a tomar?

Se bem nos lembrarmos, em 2024 com a queda imprevista do governo de Luís Montenegro e o espectro de novas eleições que a maior parte do eleitorado não desejava, começa a nossa marcha para trás; e a evidência é a de que nas eleições que acontecerem em 18 de maio de 2025 os resultados alcançados ditam uma queda da esquerda, exceto do partido Livre, e um aumento da direita e da direita radical (AD, Chega e IL).

E, assim, em termos de representação parlamentara a AD alcança 91 deputados, o Chega 60, o PS 58, a Iniciativa Liberal 9, o Livre 6, o PCP 3, o Bloco de Esquerda 1, o PAN 1 e o JPP 1; e, então, perante este facto o líder do PS, Padro Nuno Santos, demite-se, obrigando à escolha de novo líder, dada a evidência de ultrapassagem do PS pelo Chega em número de deputados e, obviamente, relançando o partido de André Ventura como o maior partido da oposição.

Pois bem, uma leitura mesmo que ligeira destes dados aponta para uma perda de cerca de 400 mil votos e 20 mandatos parlamentares para o Partido Socialista, bem como o PCP, o Bloco e o PAN igualmente perdem eleitorado; e, ao mesmo tempo, os partidos de direita e da extrema-direita almejam uma evidente ascensão em número de deputados e de votos.

Agora, com um novo governo da AD em funções novos rumos se apontam e

outros tantos cenários parlamentares se desenham; por exemplo, o PS parece que, com a escolha de Luís Carneiro para líder, não fará permanente obstrução e guerrilha à governação de Luís Montenegro, dando-lhe mesmo, se necessário e possível, apoio à aprovação de medidas estruturais, através de acordos pontuais e negociados, como no passado aconteceu, na ausência de maiorias parlamentares, quer do PS, quer do PSD e do CDS, avançando-se com consensos, apoios pós-eleitorais e, até, acordos de regime; se bem nos lembrarmos, isto aconteceu quando, por exemplo, Mário Soares, primeiro-ministro sem maioria no Parlamento, os fez com o CDS de Freitas do Amaral.

Pois é, perante o cenário parlamentar em que estamos a viver só um PS dialogante, colaborativo e responsável pode colaborar com a AD, mesmo governando em minoria, nas investidas do Chega, cujas intenções são aproveitar ao máximo as oportunidades para penetrar no eleitorado da AD, do PS e da Iniciativa Liberal; e esta situação pode, sem dúvida, arrastar o país para a força dos populismos, dos revanchismos e das ações ditatoriais, indesejáveis e perigosas para Democracia.

Porque é óbvio que vamos precisar de um governo atento, trabalhador dialogante, rigoroso e forte que cumpra as suas promessas eleitorais e resolva os problemas, há muito adiados, dos portugueses e do país; porque, se recuarmos no tempo, fomos vivendo tempos de permanentes incompetências, negocianismos e desleixos da parte de governantes e dirigentes partidários.

Entretanto, as reformas estruturais e os problemas sociais imprescindíveis não podem mais ser adiados, como, por exemplo, os da habitação, os da migração, da Justiça, da Educação, da Saúde, da Segurança, da Lei eleitoral, da Segurança Social, do Ambiente, do rendimento das Famílias, dos Impostos, do Poder Local, da redução da burocracia, corrupção, dos transportes públicos, etc,etc,etc.; e é aqui que reside a necessária vontade, o empenho, a competência, o rigor, enfim, o estadismo dos governantes e agentes políticos que podem segurar, defender e, assim, salvar a Democracia, porque não nos esqueçamos que o avanço das forças extremistas de direita e de esquerda em alguns governos da União Europeia é, antes de mais, estrutural e não fruto de lideranças falhadas e conjuntivas adversas.

É, então, que devemos estar atentos e vigilantes no que já vai acontecendo na nossa vida democrática, onde os extremismos de direita vão ganhando poder e avanços significativos nos atos eleitorais que se têm realizado; e, por, isso, todos não seremos demais para revitalizar e, assim, salvar a Democracia.

Então, até de hoje a oito.

Dinis Salgado

Dinis Salgado

18 junho 2025