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Muitos “pastores municipais” e muitos rebanhos

Dois anos húmidos, seguidos). Em Portugal, quer em 2024 quer em 2025, a meteorologia não tem sido desfavorável à agricultura, uma vez que tem chovido com regularidade. Ao ponto de não se registar qualquer seca e a água represada ser abundante.

Quando é assim, os matos crescem bastante). Sobretudo nas regiões florestais, as quais com grande frequência no nosso País estão divididas por imensos “minifúndios” (pequenas propriedades). Os quais, especialmente no vasto Interior serrano, com frequência não se sabe a quem pertencem. Uma vez que, sobretudo desde o final dos anos 60, muitos dos moradores emigraram para as grandes cidades, ou para França, Suíça, Alemanha, Luxemburgo, Bélgica, Canadá. A maioria desses, até já morreu; e a geração seguinte (e a actual, a dos seus netos) em muitos casos até já pouco contacto tem com a “Mãe Pátria” e com as suas vilas e aldeias.

Assim sendo, mesmo que muitos proprietários “limpem” os terrenos…).Mesmo que alguns cortem o mato, à sua volta esses trabalhos não são com frequência realizados. E assim, se os delinquentes do costume “se lembram” de incendiar a região, é frequente que nada tenha adiantado o avultado investimento de dinheiro e o trabalho de desmatamento dos particulares. Os quais, “motu proprio” (ou compelidos pela Administração, sob fortes multas) lá cumpriram a lei. Tudo isto já vai sendo conhecido, é pacífico. Quando, em 98 cheguei a este nosso jornal (o DM), tive muitas conversas sobre o tema com o então director, o futuro cónego e agora saudoso Pe João Aguiar. Nas quais eu ligava os fogos-postos a uma vasta conspiração “do eucalipto e das celuloses”. E ele, um serrano de S. João do Campo (Gerês) dava relevo à falta de pastoreio, por via da emigração. É claro que ambas as análises eram correctas.

Outrora, havia muitos mais pastores e rebanhos). Entre as imensas (e belíssimas) canções tradicionais que o grande cantor e folclorista leonês Joaquín Díaz celebrizou, uma havia que dizia: “Pastor que estás enseñado /a dormir entre retama/ si te casaras comigo, pastor/ durmieras en buena cama, y adiós”. Até há 5 décadas atrás, pois, abundavam os rebanhos e os pastores, por toda essa Península Ibérica. E além deles, em Portugal, os muitos guardas florestais (dos quais sobram numerosas casas abandonadas); e os cantoneiros, que cuidavam das bermas das estradas secundárias. Ambas estas corporações vigiavam qualquer (rara) tentativa de ignição dos pinhais; e logo remediavam o problema à nascença, se houvesse fogo. Desde finais dos anos 70, os governos tiveram como política central, o “deixar queimar” e a subsequente eucaliptização. O que acelerou a desertificação de vastas áreas do Interior… e acabou então com guardas florestais e cantoneiros. Só após mais um verão (e outono) terríveis, o de 2017 (com os seus 150 mortos), é que o grosso da população se foi convencendo de que existia mesmo uma conspiração. Agora também, com o fim de desvalorizar a paisagem, queimando-a, para a encher de barragens, pedreiras, linhas de alta tensão e ventoinhas eólicas (e agora, também, de “latifúndios” de painéis fotovoltaicos).

Dêem uma oportunidade às “cabras sapadoras”). Como diz o “slogan” usado por certo político “bem aventurado” da nossa praça, “dêem uma oportunidade” às (já há alguns anos, por alguém chamadas) “cabras sapadoras”. Isto é, criem-se inúmeros novos rebanhos de ovelhas e de cabras; estas heroínas do reino animal (e mártires da culinária…), devidamente pastoreadas nesses campos e montes, vão comendo toda a classe de arbustos; os quais, em caso de incêndio, muito ajudam a propagar os fogos.

Há alguém que não goste de um bom “cabrito assado”?). Claro que há os vegetarianos (e similares); contudo, para mim e para tantos, é uma das melhores iguarias. Porém, muito rara e muito cara. Havendo contudo mais rebanhos, o preço desceria, e muito.

Criem-se por cada concelho rural, dezenas de “pastores municipais”). Cada um deles seria um “funcionário público”; e pago muito acima do ordenado mínimo, dado que a profissão é dura. Não faltariam candidatos, contudo.

Chamar de volta emigrantes, repovoar o País com portugueses). Em vez de fazer TGV's, aeroportos ou gastar em descabidas despesas militares em benefício de duvidosos interesses de terceiros, deveríamos era gastar esses dinheiros na saúde ou na melhoria das reformas dos idosos, p. ex.. E também na criação de 2 ou 3 mil “pastores municipais”; e na compra de gado ovino e caprino a países “especializados”, como Espanha, Argentina, Marrocos, Cazaquistão… A alternativa é obrigar anualmente os proprietários a gastar o dinheiro que não têm, em inúteis “limpezas anuais dos terrenos”.

Eduardo Tomás Alves

Eduardo Tomás Alves

17 junho 2025