Já estou a ver o filme. Em segunda rodagem. Com outros actores, é verdade, mas com o mesmo guião. O actor principal de agora, José Luis Carneiro, empolgado por ser o actor principal, vai meter-se num vespeiro irritadiço e desorientado, onde as vespas atarantadas e aferroadas estão desejosas e prontas para lhe espetar o veneno e liquidá-lo logo na primeira oportunidade.
1 - Convém recuar a 2014 para se perceber a saga. António José Seguro, o secretário-geral do PS, no tempo, depois da governação desastrosa de Sócrates, deu o corpo às balas e meteu as mãos na “lixeira” neo-socialista, “limpando” com muito custo as nódoas da vergonhosa bancarrota. Depois de vencer duas eleições, as autárquicas e as europeias, fora prendado com os mimos ingratos do antigo patriarca Mário Soares que apelidou a vitória conseguida como uma vitória de Pirro. Também o dr. Costa o mimoseou com o célebre diminutivo do “poucochinho”, Seguro incomodava, porque se propôs a colaborar nas reformas que iriam ser levadas a cabo pelo governo de Passos Coelho. Era uma atitude responsável para recolocar o país na rota do crescimento económico e de reparar parte dos erros dos seus camaradas do partido. Como socialista de “direita”, moderado, e muito contestada pela ala socrática ferida, Seguro fora, um pouco mais tarde, humilhado nas “directas” com uma pesadíssima derrota.
2 - Estou mesmo a ver a segunda versão do enredo com José Luís Carneiro à frente do partido. Até ao momento, por tacticismo, ninguém se posiciona para disputar a liderança. Ninguém se atreve a limpar as asneiras que António Costa e “sus muchachos” cometeram nas três governações. Estiveram lá todos. E, hoje, sem memória. Coitados! E sem remorsos. É claro que alguém tinha que pagar a factura. Calhou a fava, por soberba e por imaturidade, a Pedro Nuno Santos que levou um banho histórico, quedando-se na terceira posição, perdendo até o estatuto de líder da oposição.
O PS está um frangalho. Num estado confrangedor e com poucas hipóteses de recuperar o eleitorado perdido. A confiança foi-se. As tretas do Estado Social não cativam ninguém. As más memórias tomaram a dianteira. Um partido sem jovens e baseado nos reformados e no funcionalismo público envelhecido é um partido condenado à insignificância. Além disso, as mensagens ideológicas são do passado e esse passado com governações desastrosas e de abandono, fugas, às responsabilidades governativas nada o favorece.
3 - Os neo-socialistas entraram na fase crítica da reflexão. E por aí ficarão muito tempo. O conceito “reflexão” é no momento a única escapatória do partido. Serve para amenizar o ambiente político interno; para justificar os insucessos e a arrogância ideológica; para adiar a discussão dos verdadeiros problemas da decadência; para retirar as peças defeituosas da engrenagem. Afinal, o que, é que, o partido vai reflectir? A bancarrota de Sócrates que nunca foi assumida e reflectida? O golpe democrático de 2015 que nunca foi reflectido? Os acordos de governação com a extrema-esquerda que nunca foram reflectidos? A traição a A.J. Seguro que nunca foi reflectido? Como se poderá juntar tanto caco num partido tão destroçado?
4 - Nota de rodapé - Finalmente, o BE calou-se. Perceberam que as “grandes ideias” e as enormes “fracturas sociais” perderam força e jeito. As causas secaram. A linguagem “woke” deixou de ter tradução. A História de Portugal voltou a ter sentido e a merecer respeito. Já ninguém suportava o peso-morto dos bloquistas. Era intragável. Era intratável. Os velhos repescados voltaram aos “lares”. As Mortágua saíram de cena. Mais a líder do que a vassala. A líder perdeu o norte. Anda à deriva. Agora, sozinha no hemiciclo até dá pena. Coitada! Tanto trabalhou para ficar só. E teve sorte em ficar só. Por pouco, ia de guias. Mas ficou como exemplar vivo e demonstrativo na montra de uma ideologia de tontices para se reflectir.