David Munir, Adério Lopes, voluntárias do Centro de Apoio ao Sem-Abrigo (CASA). Num ápice, o país é sacudido por atos de violência e de agressividade, tendo como pano de fundo o racismo, a intolerância e a perseguição e a alimentá-los, uma falsa ideia, alimentada pelo sufrágio universal, que institucionalizou, através da participação democrática, o direito à mentira e à manipulação em direto sobre factos, com o beneplácito” de Órgãos de Comunicação Social e o sacramento das redes sociais que se tornaram cúmplices indiretos da verdade alternativa, necessária à desordem social, fulcral para a conquista do poder pela extrema direita. Só assim, em Portugal, como no resto da Europa, tem sido possível, paulatinamente, o crescimento de partidos radicalizados à direita que, à falta de oposição extremista à esquerda, elegeram os partidos do centro democrático como alvo preferencial para crescerem. O mais perigoso em todo este processo, alimentado pelo sistema democrático, é a passividade com que as instituições, defensoras do Estado de Direito, nomeadamente a Procuradoria-Geral da República e os tribunais atuam. À violência gratuita, que soma e segue de um povo -outrora brando nos seus costumes- assistimos atónitos a uma tolerância e a uma aceitação sem precedentes do direito à manipulação da verdade. Bastava a sua denúncia e repulsa para que a condenação tivesse o efeito desejado, impedindo o crescimento de falsos argumentos que são assimilados pelo comum dos cidadãos e se tornam acha para uma fogueira onde sobejam problemas reais como os custos com a habitação, o acesso à saúde, a falta de professores e uma indiferença total com consumos cada vez mais desregulados na internet e manipulados com a ajuda da Inteligência Artificial. Se queremos fazer alguma coisa para inverter o caminho perigoso, que parece não ter barreiras morais a impedi-lo, é agora; não é depois. Não estamos perante um experimentalismo social ou um voluntarismo de protesto, é mais perigoso do que isso. Pequenos grupos radicalizados conseguem hoje mais atenção mediática, tornando-se fator de atração e não de repulsa, porque combinam em ação, o resultado da expressão eleitoral da manipulação da verdade dos factos sobre, nomeadamente, a realidade dos imigrantes em Portugal. Deixar que este ódio se alimente, que outros grupos se formem, que em casa os jovens continuem em rédea solta a serem alimentados pela insatisfação de quem lhes sabe fazer chegar a mensagem apropriada, dos pais que fora de casa, nos cafés ou no emprego, ouvem o aconchego de quem lhes diz que a culpa é daquele dos monhés, dos muçulmanos, dos pretos, dos comunas, dos homossexuais, de todos eles, deixar rédea solta para que o ódio cresça e novos episódios de violência gratuita, novas saudações nazis se tornem o novo normal, perdurando o silêncio daqueles que instigaram o radicalismo e, por via disso, se tornaram elegíveis, será o fim da Democracia. É por tudo isso, que um dos seus pilares – a Liberdade de expressão –, se tornou perigosa, a partir do momento em que foi usada de forma abusiva e contra essa, o Estado de Direito tem a obrigação de se defender. A Democracia não tem outra arma para usar no combate aos seus próprios defeitos se não impedir e punir de forma exemplar aqueles que atentam, de forma clara, contra os seus fundamentos. Tenho escrito e continuarei a escrever que esta Democracia tem o direito a defender-se. Não pode ser nem ingénua, nem passiva. Há que passar a ser ativa e pragmática. Só assim seremos capazes de sobreviver aos seus pontos fracos.