Nesta última terça-feira, na Áustria e em França ocorreram mais dois casos de violência mortal exercida, por estudantes ou ex-estudantes, sobre a população escolar. Em França, um aluno muito jovem, com 14 anos, esfaqueou até à morte a funcionária que, numa revista de rotina destinada a detetar e dissuadir o porte de eventuais armas, fiscalizava o conteúdo da sua mochila, enquanto na Áustria um ex-aluno, agora com 21 anos de idade, atacou com armas de fogo o estabelecimento de ensino que frequentara, para matar alunos e professores, num total de dez, para lá dos vários feridos com gravidade que ainda causou antes de se suicidar.
Do original grego (etimologia) o termo “escola” significa descanso, repouso, lazer, tempo livre, estudo. Um espaço para fruir e valorizar liberdades, com responsabilidade, para absorver saberes, ferramentas ou instrumentos úteis para a vida futura, é assim que ainda hoje é divulgada e percecionada a escola. Tudo muito pouco condizente, concordaremos, com o agora observado em França e na Áustria.
Acontecimentos hediondos como estes têm sobrevindo com maior recorrência nos Estados Unidos da América, mas, com menos reincidência, também emergem um pouco por todas as geografias.
É trabalho para criminologistas, psicólogos ou sociólogos – o que não sou – percecionar a maior recorrência do fenómeno. De qualquer modo, não será difícil aportar alguns dos fatores ou males que alimentam as mentes perturbadas – como as destes jovens, francês e austríaco – que passam a ver nos homicídios que planeiam atos de justiça ou libertação individual, com direito a um pequeno lugar na história.
A considerável liberalização no direito ao uso e porte de arma será certamente um fator – o caso dos EUA é por demais conhecido; na Áustria, cerca de 30% da população possuirá armas.
No caso dos homicídios cometidos em Graz, na Áustria, pelo ex-estudante da escola (cujo percurso curricular não havia concluído) são avançadas como “motivações” anteriores sujeições a bullying, por parte de colegas. A ser verdade, poderá ter-se verificado a ampliação humilhante através das redes sociais de debilidades ou particularidades negativas deste antigo estudante da escola. Nada que valide, obviamente, o direito de ripostar a tiro, indiscriminadamente, sobre alunos ou professores da sua antiga escola.
Vivemos o tempo da imersão geral e profunda, sobretudo entre os mais jovens, nas redes sociais. Com frequência, a família, sob pretextos vários, dispensa-se de acompanhar devidamente os filhos, propiciando-lhes, todavia, generosa e irresponsavelmente, um telemóvel em idade precoce ou um computador, que os jovens usam, sem critério, e muitas vezes no pior sentido. Mostra-se, por isso, muito apropriada a vigilância acrescida que em França o presidente Emmanuel Macron, na sequência de muitas vozes autorizadas sobre o assunto, reclama sobre as redes sociais, pretendendo que as mesmas sejam interditas a menores de quinze anos.
Num qualquer inquérito entre os mais jovens sobre a pertinência deste intento de Macron, não teremos dúvidas de que o “chumbo” do mesmo rondaria quase o pleno. Mas se educar não equivale a provocar desprazer, menos significará transigir correntemente, ou alimentar a liberdade sem regra e responsabilidade.
Vai-se afirmando a convicção geral – entre os psicólogos, designadamente – de que as redes sociais, que supostamente conectam, podem induzir, particularmente entre os jovens, maior isolamento, depressão (pela difusão de modelos corporais inacessíveis, por exemplo) e, perniciosamente, podem exponenciar o bullying.
Talvez alguns leitores “mais crescidos na idade” retenham memórias semelhantes aquela que me sobrevém. Recordo-me de na escola primária diferenciarmos dois colegas, que possuíam o mesmo nome próprio, justamente acrescentando o epíteto de “gordo” a um deles. Não era bonito, podemos bem ajuizar agora. Mas, então, esta ofensa (hoje, bullying) ficava restrita ao recreio da escola ou ao espaço da aldeia sem repercussão de maior. No tempo que corre, desde casos mais simples como este a outros mais gravosos, como a humilhação ou chantagem sexual, tudo pode ser ampliado pelas redes sociais. Mostra-se, por isso, muito ajustado diferir para idades mais tardias o livre acesso a estas redes, que deviam ser mais reguladas. Os homicídios arbitrários nas escolas, como noutros contextos, não podem somar-se inelutavelmente.