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OS DIAS DA SEMANA Os passeios de Braga

 

O Município de Braga está neste momento a promover mais uma edição do Concurso Municipal de Fotografia. O tema seleccionado este ano é “a calçada portuguesa e outras calçadas de Braga”. O propósito propagandeado é “valorizar e dar visibilidade ao património cultural da cidade, destacando a beleza estética e artística das emblemáticas calçadas que decoram as ruas, praças e passeios bracarenses”. Subjaz, com certeza, à escolha do tema alguma ironia sofisticada, todavia susceptível de, a muitos, passar despercebida.

Falar de “beleza estética e artística” a propósito das “calçadas”, ainda por cima qualificadas como “emblemáticas”, é algo que, evidentemente, cai sob a alçada do risível. É que os passeios de Braga – como em tantas zonas é possível infelizmente comprovar – quando não são feios e sujos, são quase sempre banais; além de desconfortáveis e, em demasiados sítios, perigosos. Quase nunca ou nunca parecem especificamente pensados tendo em conta as pessoas com mobilidade reduzida.

Os passeios de Braga foram tema de crónica, nesta página, mais ou menos por esta altura, há treze anos. Aqui se escrevia então que, olhando para o chão de Braga, traçando um reduzidíssimo perímetro, se vêem empedrados com quatro ou cinco formas e materiais diferentes. Aumenta-se o perímetro e as formas e os materiais multiplicam-se. “Os passeios de Braga têm uma tamanha variedade que ao visitante deveria ser oferecida uma gramática do chão”. Talvez com ela munido se pudesse compreender a razão por que há tão desfasados materiais de todos os tamanhos, géneros e feitios, colocados “sem o cuidado, a beleza e a solenidade que uma cidade antiga” reclamaria.

Desde há treze anos, houve uma alteração aqui e ali, mas a circulação de peões não é fácil. O espaço que lhes é destinado numa das principais artérias da cidade, a Avenida da Liberdade, encolheu. A área outrora reservada aos peões é agora repartida com os ciclistas. O passeio é tão estreito que um simples andaime para obras num prédio só não obriga os peões a andarem em fila porque eles seguem pela ciclovia.
Pode ser que o concurso de fotografia consiga resgatar algum incomum pedaço de beleza – tantas vezes a aparência se sobrepõe à realidade –, mas falar, como se diz no texto de divulgação da iniciativa, em “arte e saber-fazer da calçada portuguesa” a propósito de Braga é assaz caricato (a calçada portuguesa, a existir, não é propriamente a arte de colocar cubos de calcário branco e preto ou basalto nas imediações uns dos outros).

Ter passeios limpos e seguros seria já uma façanha.

Na rua 25 de Abril, há um buraco há 15 dias a transmitir uma imagem de desmazelo que é comum. A pequena cratera não oferece perigo porque a Polícia Municipal colocou uns ferros e umas fitas a assinalar a necessidade de cuidado. É, aliás, curioso que a Polícia Municipal identifique atempadamente os problemas dos passeios, mas que a respectiva resolução pareça ficar a aguardar a chegada de um equinócio ou de um solstício.

A cidade merecia um espaço público mais bem cuidado. Com “beleza estética e artística”, seria excelente.


 

Nota final: Custódia Maria Almeida das Rosas, do Departamento Arquidiocesano para a Pastoral das Pessoas com Deficiência, que ontem foi a sepultar, desejou e trabalhou por uma cidade acessível a pessoas com mobilidade reduzida. Devemos-lhe a nossa gratidão.


 

Eduardo Jorge Madureira Lopes

Eduardo Jorge Madureira Lopes

8 junho 2025